domingo, 20 de fevereiro de 2022

Algumas reações a Jesus!

 

Algumas reações a Jesus!

5º SERMÃO DA SÉRIE DE ESTUDOS NO EVANGELHO DE MARCOS

Escrito para a Igreja Daehan mep em 20.02.2022

Ilustração:

Uma senhorinha, bem baixinha e velhinha, pegou um voo para fora do Brasil com destino a Jerusalém. Dentro do avião, ela olhou para um homem, com pinta de empresário, sentado ao lado dela e perguntou a ele: “Com licença, senhor, você é judeu?” O homem educadamente respondeu: “Não, minha senhora, eu não sou judeu.” Depois de um tempo, ela perguntou novamente aquele homem: “Você é judeu, não é?” Novamente ele respondeu: “Não, senhora, eu não sou judeu.”

Então, 10 minutos depois, a velhinha perguntou a ele mais uma vez: “Cê tem certeza de que você não é judeu?” O homem começa a ficar meio impaciente e irritado e respondeu a velhinha em tom exasperado: “OK! Sim, minha senhora, eu sou judeu.” “Que engraçado, meu filho”, diz a velhinha, “Você não tem cara de judeu!”

Dado as devidas proporções, se alguma velhinha lhe perguntasse hoje: “Você é cristão?” Qual seria a sua resposta e qual seria a impressão dela em relação a você?

Texto bíblico:

Marcos 1.24 “O que queres conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o Santo de Deus!”

Marcos 2.7 “Por que esse homem fala assim? Está blasfemando! Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?”

Marcos 3.22 “E os mestres da lei que haviam descido de Jerusalém diziam: “Ele está com Belzebu! Pelo príncipe dos demônios é que ele expulsa demônios”.

Pra entender o texto:

Texto em contexto: A partir dos versículos v.14 vemos o início do ministério de Jesus na Galiléia (1,14–10.52).

Marcos começa apresentando o ministério de Jesus com foco em três grupos principais de judeus nessa região:

  1. seus discípulos (1.16–20; 3.13–19)
  2. as multidões (1.21–45; 3.7–12)
  3. os líderes religiosos (2.1–3.6; 3.20–35).

Nessa série de relatos, Jesus confronta esses grupos usando sua própria identidade como Cristo, o filho de Deus e chama cada um deles ao arrependimento e a crer no Evangelho (como vemos em 1.15).

Nesta sermão, vamos nos concentrar na reação de cada um desses grupos em relação a Jesus.

O cenário:

Acompanhado dos seus recém-vocacionados discípulos, Jesus vai pra Cafarnaum.

Cafarnaum é uma cidade que ficava na margem norte do Mar da Galiléia. É a cidade que Jesus escolheu para morar.

Nesta cidade havia uma sinagoga, e logo, somos informados de que Jesus foi pregar ali.

A cada nova pregação de Jesus, sua popularidade disparava.

De acordo com o último versículo do primeiro capítulo (1.45), Jesus atraía tanta gente que ele não podia mais entrar publicamente nas cidades.

Uma coisa interessante a destacar é que quando lemos o Evangelho de Marcos em sua totalidade, a gente percebe que o Evangelista gosta de relatar as reações emocionais do povo.

Fica mais interessante ainda quando a gente também percebe que as pessoas que estão reagindo com mais intensidade a Jesus não são os seus amigos, mas são os seus adversários.

Pra que possamos ter uma idéia melhor disto, folheie sua Bíblia entre os capítulos 1 e 3.

Observe que as pessoas que reagem a Jesus com mais intensidade não são os seus discípulos mas são os seus detratores.

A gente não precisa fazer isso aqui agora, mas quando lemos o Evangelho de Marcos de uma só vez, a gente percebe que o ritmo dos discípulos é muito mais devagar em comparação ao ritmo dos adversários de Jesus.

Parece que os discípulos estão seguindo a Jesus num ritmo sonolento.

Eles seguem a Jesus, mas de uma forma meio molenga, enquanto que aqueles que não gostam de Jesus mostram muita energia.

Vamos aprofundar cada um destes três textos bíblicos que lemos.

Aprofundando…

No primeiro texto, nós encontramos uma pessoa. Que pessoa é essa? Era um homem que estava possuído por demônios.

Este homem, que estava possuído por demônios, reconheceu dentro da mesma Sinagoga onde Jesus estava, que Jesus era uma pessoa especial.

Mas por que ele estava possuído pelos demônios, ele não queria nada com Jesus.

Veja bem: o lugar onde Jesus encontra o primeiro demônio é dentro de uma instituição religiosa.

Isso equivale dizer que se fosse em nossos dias, Jesus encontraria o demônio dentro da igreja.

Este é o primeiro caso que nós lemos. Este homem, que estava possuído por demônios, estava dentro da sinagoga. Ali, ele ouve Jesus pregar e reage dizendo: “sabemos quem voce é Jesus e o que você veio fazer aqui!”

O segundo texto que nós lemos está no capítulo 2.

Encontramos uma célula lotada de pessoas religiosas. Jesus está pregando o arrependimento e a fé no evangelho.

Dentre as muitas pessoas, estavam alguns mestres da lei.

Eles estão acusando Jesus de blasfemar contra Deus porque Jesus tinha acabado de dizer que tinha poder para perdoar pecados.

Pecados de quem? Naquela ocasião era os pecados de um homem que sofria de paralisia, que chegou até Jesus após ser carregado por quatro amigos.

Então, no segundo caso temos a seguinte reação: Aqueles mestres da lei vêem Jesus curando um homem da sua paralisia, mas também vê Jesus dizendo que tem poder para perdoar os pecados.

Jesus percebendo a reação daqueles doutores da lei perguntou: O que é mais fácil dizer ao paralítico: “seus pecados estão perdoados ou pegue sua maca e ande?”.

O que vocês acham?

A gente sabe que os mestres da lei ficaram escandalizados e reagiram negativamente a Jesus.

E qual seria o contexto do último caso?

No capítulo 3 do Evangelho, Marcos relata um novo um episódio envolve os mestres da lei.

Agora, os doutores estão caluniando Jesus. A explicação que eles dão para os milagres que Jesus está fazendo é que o poder de Jesus é mediado pelo diabo.

Ou seja, para eles, Jesus está operando seus milagres em nome do próprio diabo.

Então, Jesus responde: “isso não faz nenhum sentido”! Como pode Satanás expulsar Satanás”? Por acaso o inferno estaria em guerra civil?

Transição: Com base nesses três textos eu gostaria de aplicar alguns princípios em nossas vidas. Então, faça um esforço para acompanhar meu raciocínio.

PRA GANHAR COM JESUS, PRIMEIRO É PRECISO PERDER

A ex-presidente Dilma disse: “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”

Deixa eu tentar explicar melhor isso.

Se eu, ao me aproximar de Jesus não tiver nada a perder, talvez não seja do Jesus que é Deus que eu esteja me aproximando.

Por quê? Porque quando nós olhamos para a Bíblia, nós confirmamos pela Bíblia que Jesus é Deus, porque Ele tem o poder de transformar a vida das pessoas.

Qual tipo de transformação é essa que Jesus oferece?

Primeiro: Essa transformação surge de uma necessidade

É quando Jesus chama e a pessoa cai em si sobre a necessidade de mudanças, profundas e intensas, em suas natureza humana!

Vocês já reparam no testemunho de alguém que se aproxima de Jesus?

A tônica do seu discurso é mais ou menos assim: “eu estava seguindo meu caminho, mas em determinada altura, reconheci que sou pecador e que preciso de Deus”

Essa é a transformação que Jesus propõe e ela inclui perdas.

então, quando eu me aproximo de Jesus e sinto que existem coisas que eu posso perder,

então este é o sinal que eu estou entendendo que Jesus não é uma pessoa qualquer, mas que Ele, enquanto Deus tem o poder me transformar.

Sabe… deixa eu tentar fazer mais uma explicação:

Nós poderíamos usar esta ideia de ter coisas a perder em um sentido diferente.

Eu poderia pregar nesta manha uma outra linha de raciocínio e te dizer: “Olha! Venha até a Jesus que você não tem nada a perder.”

Eu poderia pregar assim, e nem seria errado se eu pregasse assim. Mas não é nesse sentido que eu quero usar esta expressão hoje.

Hoje, eu quero usar a expressão de termos coisas a perder,

Se olharmos para o exemplo destas pessoas que estão reagindo a Jesus,

veremos que elas estão reagindo violentamente porque percebem que se o Jesus tiver razão naquilo que Ele está dizendo, então as suas vidas terão de ser transformadas.

E é aí que tá!

Estes três casos que nós lemos no Evangelho de Marcos são casos de rejeição.

Eles não querem ter a sua vida transformadas por Jesus.

São pessoas que não gostam de Jesus, por isso elas reagem com mais disposição do que as outras pessoas que gostavam de Jesus.

Transição: Ao terminar esta série de mensagens, quero que você descubra, por si mesmo, que existem algumas maneiras erradas de admirar Jesus.

Erradas porque na verdade estão disfarçadas em modos de como nós queremos controlar Jesus.

Deixa eu tentar explicar:

Eu sei que parece estranho, mas existem pessoas que acreditam que pode admirar Jesus estando no controle dessa relação.

O que eu quero dizer com isso:

Quero dizer há maneiras de gostar de Jesus que são maneiras de impedir que Ele seja o nosso Deus.

Se seguirmos essa linha de raciocínio, então o nosso maior problema é o erro teológico do triunfalismo.

Qual é o erro do triunfalismo? É o erro de querer só ganhar!

Deixa eu explicar melhor!

Se nós sentirmos que Jesus Cristo vai colocar a gente em coisas a perder, então a gente rapidamente embrulha Jesus numa hermenêutica sofisticada, numa maneira muito inteligente de interpretar os textos, que faça com que as coisas que Jesus diz, que são difíceis pra mim, eu interpreto de uma maneira tão experta, tão experta, que no final eu vou concluir e acreditar que aquilo que eu interpretei é o contrário do que realmente aquilo que eu interpretei.

Vocês ainda estão comigo ou tá ficando difícil ?

Vocês estão me acompanhando?

Este problema de querermos nos relacionar com Jesus apenas numa lógica de ganhar é uma coisa que atrapalhou muito os discípulos.

Folheie mais uma vez o Evangelho de Marcos pra frente e pra trás, do lugar onde nós estávamos.

Sabe uma das coisas engraçadas que acontece no Evangelho de Marcos é que os inimigos de Jesus conseguem ver bem onde é que Jesus quer chegar.

Por quê os inimigos de Jesus conseguem enxergar bem onde Jesus quer chegar. Porque eles tem coisas a perder.

Eles sabem que se Jesus tiver razão, a vida deles tem de se transformada.

Já, ironicamente, os discípulos de Jesus parecem que não percebem nada.

Jesus lhes faz perguntas e eles não acertam nada. Depois acontece alguma coisa, e eles ficam desiludidos.

Há um ritmo de desilusão em desilusão, de resposta errada em resposta errada até ao pior culminar de todos.

Sabe qual é o pior culminar de todos que acontece no evangelho de Marcos?

Qual é a maior decepção dos discípulos? Qual é a maior desilusão dos discípulos que Marcos aponta?

É quando Jesus é crucificado.

Reparem numa coisa. Só na ressurreição de Jesus é que finalmente que os discípulos começam a entender que para ganhar é preciso perder muita coisa.

E o que eu quero dizer nesta manhã é que se isto acontece com os discípulos de Jesus, isto acontece com a gente.

Se isso aconteceu com eles, não devemos estranhar que isso aconteça com a gente também.

Enquanto cristãos, temos a história resolvida mas ainda não temos a terminada.

Resolvida no sentido de que o Senhor nos garante que vamos estar na eternidade com Ele, que Ele está com a gente através do Espírito Santo. Mas a nossa história não é uma história terminada.

E por isso é que nós, enquanto cristãos, muitas vezes vivemos tal e qual como os discípulos.

Quem percebe Jesus e reage com mais intensidade são os inimigos

e nós, muitas vezes, não percebemos o mestre a quem seguimos.

E eu quero propor um antídoto para este problema. O problema de querermos a entrar sempre a querer ganhar.

Que antidoto é esse? É um antídoto que nós sugerimos a todas as pessoas que quando vem e tem perguntas acerca da fé.

Não há nada melhor pra sugerir as pessoas que chegam muito convencidas de que gostam de Jesus

eu sei que pode soar meio estranho aquilo que vou falar, mas é quase que o meu papel como jondo, futuro pastor, é de me especializar em dividir as pessoas quando elas chegam já muito convencidas de que gostam de Jesus.

Pode parecer estranho que um jondo queira fazer isso, mas muitas vezes, quando as pessoas chegam já muito convencidas que gostam de Jesus, o meu trabalho é desiludi-las.

Por quê? Porque a coisas que eu tenho que te dizer é: testa a sua simpatia, a sua afeição que você tem por Jesus no lugar onde não há uma manipulação humana que resista.

Sabe qual é o lugar que nós devemos testar nossa afeição por Jesus?

Qual é o lugar que nós devemos ir para saber se nossa afeição por Jesus é boa ou má?

Qual é o lugar que eu devo ir pra saber se os meus sentimentos em relação a Jesus são verdadeiros ou não são verdadeiros?

Na Palavra!

O gente, continuem a orar para que o mep continue a ser fiel a pregação da Palavra.

Eu não tenho como propósito hoje de explicar porque nos podemos confiar na Bíblia como a Palavra de Deus. Mas esse é um assunto que a gente pode desenvolver mais pra frente, se vocês quiserem.

Mas eu quero dizer que hoje em dia, a tendencia de muitos é dizer: Eu não posso confiar na Bíblia. Este livro foi manipulado por diversos grupos dentro do cristianismo.

As pessoas dizem: “esse livro não é confiável”, não foi Deus que inspirou. Foi uma guerra de poder dentro da igreja e um grupo venceu o outro. Por isso você não pode confiar que a Bíblia é a Palavra de Deus porque ela foi manipulada pelos homens.

Eu não pretendo resolver essa questão agora, mas me deixe dizer apenas isso:

Se a Bíblia foi manipulada para um grupo ganhar o outro, eu tenho que dizer que ela foi pessimamente manipulada. Vocês não concordam comigo? Se a Bíblia foi manipulada para um partido ganhar o outro ela foi pessimamente manipulada?

Sabe porquê? Porque quando nós a Bíblia, as tensões continuam lá. As dificuldades que nós lemos na Bíblia, continuam na Bíblia. Minha gente, se eu estivesse vivo lá nos primeiros séculos, e estivesse querendo manipular a Bíblia, para que o meu grupo vencesse outro grupo, eu teria feito um trabalho muito melhor do que este que foi feito.

Quando a gente lê a Bíblia, as perguntas estão lá, as tensões continuam lá, as dificuldades permanecem na Bíblia

e por isso, percebam que, a Bíblia não nos poupa das dificuldades.

E é verdade que algumas pessoas estão muitos seguras na sua fé, porque não leem a Bíblia. E as vezes essa não é uma grande fé.

A nossa fé não é uma fé de facilidades e por isso nós lidamos com as dificuldades que a Bíblia nos dá.

Logo o conselho que damos a todos que se mostram muito ansiosos em dizer que se admiram de Jesus é:

Corre para as Escrituras para se desiludirdes com Ele.

Você deve estar pensando: Nossa, isso não faz sentido nenhum.

Deixa eu explicar:

Eu quero explicar

Porque eu eu desejo que as pessoas se desapontem com Jesus?

Porque eu eu desejo que as pessoas se desiludem com Jesus?

Porque eu eu desejo que as pessoas ganhem problemas com Jesus?

Por uma razão! Na Bíblia, todas as pessoas que seguiram Jesus foram, de uma maneira ou outra, desapontadas em alguma ou outra expectativa que tinham em relação a Jesus.

Um dos casos mais gritantes é do Simão Pedro. Pedro, como símbolo dos discípulos, ficou seriamente desapontando quando passou a pensar que Jesus se promoveria a politica, quando Jesus disse que na verdade estava para morrer crucificado.

Portanto, se Pedro que foi um dos discípulos mais próximos de Jesus, se desapontou com Jesus, porque tinha uma expectativa acerca de Jesus que não era aquela que Jesus tinha

Quem somos nós para não nos desapontarmos com Jesus?

A marca de um verdadeiro discípulo é uma pessoa que tem dificuldade com Jesus mas que confia no Jesus com quem tem dificuldades

Afinal, Ser um verdadeiro discípulo de Jesus não é sobre dizer a Jesus como Ele deve ser o nosso mestre.

Queridos irmãos, se Jesus como mestre nunca te desapontar, é sinal que você discípulo é que é o mestre do Seu mestre.

Se você nunca tiver dificuldade em ser cristão, é um sinal que você não é um discípulo, é sinal que você tá querendo ser o mestre de Jesus, e isso não faz sentido.

Por isso que a gente tá sempre aqui dizendo:

Não é fácil! Se fosse fácil, não precisaríamos nos arrepender.

Não é fácil! Se fosse fácil, não precisaríamos nos batizar.

Não é fácil! Se fosse fácil, Jesus não precisava morrer na Cruz.

A caminhada que nós fazemos com Jesus é uma caminhada que muitas as nossas expectativas são frustradas.

Nós, muitas vezes nos sentimos revoltados com as coisas que Jesus nos pede.

mas sabem de uma coisa maravilhosa, é que a boa noticia, nesse processo de desapontamento, nesse processo de muita frustração, é que a alegria que nós vamos encontrar em Jesus é maior ainda que as frustrações.

Nós vamos descobrir nas coisas impossíveis que Jesus nos pede,

que apenas com o poder dado por um verdadeiro Deus, é que nós somos capazes. Jesus é esse Deus

O fato de termos coisas a perder com Jesus é apenas o primeiro passo concreto para o conhecermos com Deus.

É aqui que eu quero terminar

O meu convite para todos nesta manhã/noite

que estão lutando na sua fé, em se tornar cristão, em abrir mão de velhos hábitos e antigas paixões

Olhar para isso com uma grande oportunidade.

Não rejeites essa dificuldade que você sente. Abrace a Jesus para que seja ele a tratar sua dificuldade.

O fato de você sentir dificuldades em sua vida quando pensa em ser cristão, é sinal de que você precisa ultrapassar e romper essa dificuldade, não no teu poder, mas no poder de alguém que é Deus. Esse Deus é Jesus .


domingo, 13 de fevereiro de 2022

Jesus chama seus primeiros discípulos


4º SERMÃO DA SÉRIE DE ESTUDOS NO EVANGELHO DE MARCOS

Escrito para Igreja Daehan mep – em 13.02.2022

Ilustração:

Era uma bela manhã de domingo. Uma família cristã voltava pra casa depois de cultarem. O culto daquele dia foi muito marcante. No carro, a caminho de casa, um menino de 9 anos, disse ao seu pai: “Papai, quando eu crescer, eu quero ser pregador.”

“Jura, filho?” Disse o pai: “não vejo nenhum problema nisso. Mas me diz uma coisa, por que você decidiu ser pastor se até a semana passada você queria ser jogador de futebol?

O menino respondeu: “é que durante o culto, eu percebi que vou à igreja todos os domingos pelo resto da minha vida — e isso é muito tempo, né pai? Então, acho que seria mais divertido se eu pudesse estar lá na frente de pé e gritando do que ficar apenas lá embaixo, sentado e ouvindo!”

Bom, gente! Essa não é a melhor forma de responder ao “chamado” de Jesus. Vamos ver uma maneira mais adequada…

Texto Bíblico:

“16. Caminhando junto ao mar da Galileia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. 17. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. 18. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. 19. Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes. 20. E logo os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após Jesus.”

— Marcos 1. 16–20

Pra entender o texto:

Texto em contexto: Apenas dois versículos antes, no v.14 vemos o início do ministério de Jesus na Galiléia (1,14–10.52).

Marcos começa apresentando o ministério de Jesus com foco em três grupos principais de judeus nessa região:

  1. seus discípulos (1.16–20; 3.13–19)
  2. as multidões (1.21–45; 3.7–12)
  3. os líderes religiosos (2.1–3.6; 3.20–35).

Nessa série de relatos, Jesus confronta esses grupos usando sua própria identidade como Cristo, o filho de Deus e chama cada um deles ao arrependimento e a crer no Evangelho (como vemos em 1.15).

Nesta sermão, porém, vamos nos concentrar apenas no grupo dos primeiros discípulos.

O Cenário:

O ambiente do nosso texto está situado na região da Galiléia. Se você tem mapas na sua Bíblia, dá uma olhada na parte mais ao norte de Israel que você vai localizar a cidade que Jesus escolheu para dar início ao seu ministério.

Quando você encontrar o território da Galiléia, você vai ver um pouquinho mais à direita o lago de Genesaré ou Mar da Galiléia que tinha 16km de comprimento por 11km de largura. Este lago é bastante conhecido por sua atividade pesqueira.

Estima-se que sete dentre os doze discípulos de Jesus eram pescadores. Conforme afirmado por Osborne, os pescadores galileus, incluindo os discípulos, costumavam pescar com redes de arrasto. Essas redes tinham aproximadamente “6 metros de diâmetro com pedras amarradas a uma de suas extremidades. Para pegar os peixes, lançavam a rede e a puxavam de volta com cordas” (2019, p. 24). É possível que Simão, André, Tiago e João estivessem preparando as redes para fazer este trabalho, quando Jesus os chamou.

O Texto:

Antes do Marcos chegar na metade do primeiro capítulo do seu relato, vamos ver o Jesus começando a formar o grupo dos seus discípulos.

No vs. 16 Jesus está caminhando na praia e avista dois irmãos pescadores: Simão e André. Sabemos que o Simão tem um segundo nome que é Simão Pedro.

No vs. 17 Jesus chama Simão e André dizendo: “Vinde após mim que eu vos farei pescadores de homens”.

No vs. 18 Simão e André, prontamente, deixam suas redes para seguir a Jesus.

No vs. 19 Jesus continua caminhando nas areias daquele lago até avistar o segundo par de irmãos: Tiago e João.

No vs. 20 vemos acontecer a mesma coisa que aconteceu com Simão e André. Eles estavam no barco consertando as redes e Jesus os chama. Na mesma hora, eles deixam os seus afazeres aos cuidados de seu pai Zebedeu com seus empregados, e passam a seguir Jesus.

Venham e sigam-me!

Quando lemos este texto, no primeiro momento, ficamos com a sensação de que tudo está acontecendo muito rápido e muito facilmente.

Você não acha estranho um rabino desconhecido, um mestre religioso no início da sua carreira, sair por aí convidando pessoas que ele acaba de conhecer e dizendo a elas: “Venham e sigam-me” e elas, prontamente, deixarem tudo para segui-lo?

Ilustração:

Você já ouviu esse enigma? “Um homem entra em um restaurante e pede ao garçom um copo de água. O garçom puxa uma faca e aponta para o homem com um olhar ameaçador. O homem diz: ‘Muito obrigado’ e sai feliz daquele restaurante. Qual é o enigma?”

Tudo faz sentido, quando você conhece o resto da história: o homem que entrou no restaurante estava com crise de soluços e ele queria beber um copo de água para tentar se livrar deles. O garçom, muito atento, percebeu os soluços do homem e o assustou para ele se livrar daqueles soluços rapidamente. E deu certo. O garçom pediu desculpas pelo susto. Os dois sorriram deste episódio e o homem saiu feliz daquele restaurante.

Algumas vezes, tem que haver mais em uma história, e a história de hoje é uma dessas vezes.

Um enigma decifrado:

Muito provavelmente, quando a gente abre o Evangelho de Marcos e lê sobre o chamado dos discípulos, a gente pode achar que esses dois pares de irmãos passaram a seguir a Jesus, porque há dois mil anos atrás, na região da Galiléia, essa era uma prática habitual e cultural entre eles.

No entanto, aquilo que parece estranho pra nós hoje — de um homem desconhecido passar e conquistar discípulos para si, sem que eles tivessem qualquer conhecimento dele anteriormente — também era estranho para as pessoas que viviam na Galiléia nos dias de Jesus.

Por isso, o que Jesus acabou de fazer nesses versos, é estranho tanto para nós quanto para Simão e André, Tiago e João.

Para se ter uma idéia de como essa prática não era comum na tradição religiosa judaica, os mestres não escolhiam seus discípulos.

Naquele tempo, não era o professor que escolhia seus alunos. O que Jesus está fazendo aqui é uma coisa que não passa nem perto do contexto religioso e cultural da qual ele mesmo estava inserido.

Por outro lado, a tradição religiosa judaica enfatizava que a identidade de uma pessoa vinha, fundamentalmente, da sua família.

Nós sabemos que para os judeus, a honra que é devida aos pais é tão importante que há um mandamento exclusivo e dedicado isso: nós devemos honrar nossos pais. Qual é o mandamento? É o quinto mandamento: “honra ao teu pai e a tua mãe!”

Agora o que isso quer dizer para o judeu? A pessoa que pensava em si própria, fundamentalmente, se lembrava da família de onde viera. É por isso que as genealogias são elementos integrantes de toda a Bíblia, quer no Antigo Testamento quer no Novo Testamento.

A tradição judaica acredita que a melhor maneira de se conhecer alguém é saber de qual família a pessoa vem.

Então, lemos no versículo 19 que quando Jesus chama Tiago e João, eles estavam trabalhando com o pai deles que se chama Zebedeu.

Imagina a cena: os dois filhos estão trabalhando com o pai para garantir o sustento da casa, e de repente, chega um rabino desconhecido que chama os meninos para segui-lo.

O que Tiago e João fizeram em relação ao seu pai Zebedeu? Eles, prontamente, abandonaram o seu pai.

Mas isto não fazia nenhum sentido para uma cultura que enfatizava a honra que um filho deve ter com o seu pai e a sua mãe.

Portanto, há duas coisas estranhas acontecendo na chamada de Jesus a estes homens.

A primeira é que não era normal ver um mestre escolhendo seus discípulos. Era mais comum que os discípulos escolhessem seu mestre. Mas o que acontece no Evangelho é oposto disso. É Jesus que escolhe os seus discípulos.

A segunda é que para uma cultura como a judaica, que valoriza tanto a família, não era normal ver alguém abandonando a família para seguir um estranho.

A chamada de Jesus, neste sentido, é marcada por uma radicalidade dupla:

a primeira é que no processo de conhecer a Jesus que a gente passa a descobrir que é Deus que quer se relacionar com a gente.

Essa é uma das primeiras idéias que o Evangelho de Marcos nos sugere. Não somos nós que escolhemos o mestre. Não fomos nós que escolhemos a Deus, mas foi Deus quem nos escolheu primeiro (Jo 15.16a). Essa é a primeira radicalidade do chamado de Jesus.

A segunda radicalidade é que conhecer Jesus é também reconhecer que Jesus exige prioridade sobre todas coisas em nossa vida, até mesmo sobre a nossa família.

Hoje, no entanto, vemos algo bem diferente na nossa cultura. Nós estamos em um país que, hoje, valoriza a individualidade.

A maior prova é a adolescência — e não sei concordam comigo — mas quando chegamos na adolescência, naquela fase em que estamos descobrindo a nossa identidade, tudo aquilo que os pais são é justamente tudo aquilo que os adolescentes não querem ser.

Geralmente, no início da adolescência e da juventude, a tendencia é pensar que aquilo que o o pai é ou aquilo que a mãe é, é aquilo que os filhos não querem ser.

No entanto, essa mentalidade moderna não fazia nenhum sentido há dois mil atrás em Israel. Pelo contrário, era muito importante o modo como alguém continuaria a honrar a sua família.

Por isso, podemos dizer que é chocante a contra-cultura que Jesus está implantando aqui.

É como se ele estivesse dizendo: a relação que eu quero ter contigo, meu discípulo, é tão preciosa que eu quero que você a priorize mais do que a coisa mais importante da nossa cultura, que é a honra aos pais.

Vamos abrir um parênteses aqui para pensar nas coisas que são as mais sagradas na nossa cultura e que possuem um valor filosófico pra gente. Por exemplo: o trabalho é uma delas.

Nosso trabalho ou a nossa profissão é uma das coisas mais importantes que a gente tem como valor essencial para que possamos nos amarmos a nós mesmos.

Você concordariam que, na maioria dos casos, aquilo que alguém é/faz profissionalmente é em grande parte aquilo mais pode deixar essa pessoa feliz consigo mesma.

Então o que Jesus está querendo dizer aqui é o seguinte: a relação que eu quero ter contigo, meu discípulo, vale mais do que o valor que você dá ao seu trabalho ou a sua profissão.

Você tem sonhos profissionais? Jesus não está dizendo que eles são pecaminosos. Você tem sonhos na tua vocação? Jesus não está dizendo que eles são errados. Mas há uma coisa que Jesus quer nos ensinar: Ele quer dizer que nenhum sonho que você possa ter sobre a sua vocação ou sobre a sua carreira é mais importante do que o fato dEle te chamar.

Observe o que Jesus está fazendo:

Se Ele está dizendo isso a Simão, André, Tiago e João, quando ele ainda era um estranho pra eles, significa que provavelmente Ele vai fazer o mesmo com você.

Afinal, não faria nenhum sentido Jesus chegar a esses dois pares de irmãos, pedindo coisas difíceis e estranhas pra eles, e de repente, dois mil anos depois, chegar até você, buscando ter contigo apenas um relacionamento superficial!

Ora, se Jesus pediu coisas difíceis e estranhas aqueles homens há dois mil anos, então, não estranhe se Ele pedir coisas difíceis e estranhas a você hoje.

Repare nisso! É bem sério! Jesus está querendo dizer: Eu sou mais importante do que tudo aquilo que você tem na sua vida.

Olha! O seu trabalho é importante, sua vocação é importante, sua relação com seus pais é importante, mas se você quiser me seguir, eu devo ter a sua primazia sobre todas essas coisas.

Jesus deve ter a primazia em tudo!

Ainda que a gente se orgulhe de ser cristão, de vir para igreja e de frequentar e seguir a religião certa — em nosso caso é o Cristianismo — só isso, por si só não é suficiente para nos salvar.

Alguém pode estar na igreja certa, na religião certa e mesmo assim não ser salvo.

Aqueles pescadores também tinham religião. Eles eram judeus e por isso seguiam o judaísmo. Mas o judaísmo de Simão, de André, de Tiago e de João não era suficiente.

Aqueles pescadores precisavam mais do que uma religião. Eles precisavam de Jesus.

Não é religião que a você escolheu, ou aquela que os teus pais escolheram por você, ou aquela que você frequenta por Osmose que pode resolver o seu problema.

E qual é o seu problema? O seu problema é que você precisa de Jesus. Ele é o único Mestre que resolve aquilo que a religião não resolve.

E ainda que você estude teologia, ainda que você decore todos os catecismos, ainda que você memorize muitos textos bíblicos, sem Jesus tudo isso é insuficiente.

Preciso dizer uma coisa sobre nossa igreja: eu me orgulho demais do departamento educacional do Daehan.

Nossos professores são muito dedicados, pra não dizer que são bem chatos e exigentes quando o assunto é educação religiosa. E eles estão certos.

A gente não pode tornar o ensino educacional menos exigente. Eu acredito que nossas crianças, nossos adolescentes e jovens merecem o melhor. Por isso que a gente tem que ser bem chatos com isso.

Mas eu também preciso reconhecer que nem mesmo a melhor e mais excelente formação bíblica, teológica, religiosa no educacional pode fazer aquilo que só Jesus pode fazer.

Os alunos podem saber todo o conteúdo das pregações de trás pra frente, podem memorizar muitos textos bíblicos, mas se Jesus não os chama-los eles não irão, apenas através do educacional, conseguir chamar a Jesus. Percebem a ideia?

Por melhores que sejam os nossos pais e professores, Jesus tem que estar acima deles. Jesus tem que ser muito mais importante que eles.

Isso não é uma coisa fácil de ensinar, mas eu tenho a missão de dizer aos meus filhos que eu e a mãe deles não é mais importante que Jesus.

Jesus tem que será pessoa mais importante pra vocês. Jesus tem que ser o mais importante pra vocês.

Um pai e uma mãe não tem a autoridade última. Acima deles está a autoridade de Deus.

Portanto, eu quero o melhor para os meus filhos, mas também quero eles saibam que ninguém é auto-suficiente, apenas Jesus é!

Nem mesmo, os melhores conselhos dos pais serão suficientes para que você possa seguir a Jesus.

Pra seguir a Jesus, é necessário ouvir a voz do próprio Jesus te chamar.

Agora a última pergunta que me resta a dizer é: Será que estamos ouvindo Jesus nos chamar?

Não são as pessoas que escolhem Jesus, é Jesus que escolhe as pessoas.

Não são os escolhidos que oferecem espaço das suas vidas para Jesus, é Jesus que lhes exige a suas próprias vidas.

Por fim, não se engane ao achar que tudo acontece de um jeito muito simples no Evangelho de Marcos. Não é porque tudo acontece de um jeito simples que tudo vai acontecer de um jeito fácil.

Marcos não está apelando para uma fé apressada, mas apela a uma fé urgente.

Uma das coisas que eu quero que vocês percebam nessa série, é que em Marcos não há muita explicação, mas isso não significa que por esse motivo a gente deve tomar uma decisão equivocada, mas significa que a gente deve tratar com urgência um assunto que é urgente.

Portanto, vale a pena você se colocar dentro deste texto e se perguntar: O que me impede de ser um discípulo? Nesta manhã, o que me impede de ser discípulo?

Se é Jesus que está te chamando, nada te impedirá de ser seu discípulo.

Que Deus nos ajude.

fontes:
BÍBLIA. Mc 1.16-20, ARA
OSBORNE, Grant R. Marcos: Série Comentário Expositivo. 2019.

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