domingo, 13 de fevereiro de 2022

Jesus chama seus primeiros discípulos


4º SERMÃO DA SÉRIE DE ESTUDOS NO EVANGELHO DE MARCOS

Escrito para Igreja Daehan mep – em 13.02.2022

Ilustração:

Era uma bela manhã de domingo. Uma família cristã voltava pra casa depois de cultarem. O culto daquele dia foi muito marcante. No carro, a caminho de casa, um menino de 9 anos, disse ao seu pai: “Papai, quando eu crescer, eu quero ser pregador.”

“Jura, filho?” Disse o pai: “não vejo nenhum problema nisso. Mas me diz uma coisa, por que você decidiu ser pastor se até a semana passada você queria ser jogador de futebol?

O menino respondeu: “é que durante o culto, eu percebi que vou à igreja todos os domingos pelo resto da minha vida — e isso é muito tempo, né pai? Então, acho que seria mais divertido se eu pudesse estar lá na frente de pé e gritando do que ficar apenas lá embaixo, sentado e ouvindo!”

Bom, gente! Essa não é a melhor forma de responder ao “chamado” de Jesus. Vamos ver uma maneira mais adequada…

Texto Bíblico:

“16. Caminhando junto ao mar da Galileia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. 17. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. 18. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. 19. Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes. 20. E logo os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após Jesus.”

— Marcos 1. 16–20

Pra entender o texto:

Texto em contexto: Apenas dois versículos antes, no v.14 vemos o início do ministério de Jesus na Galiléia (1,14–10.52).

Marcos começa apresentando o ministério de Jesus com foco em três grupos principais de judeus nessa região:

  1. seus discípulos (1.16–20; 3.13–19)
  2. as multidões (1.21–45; 3.7–12)
  3. os líderes religiosos (2.1–3.6; 3.20–35).

Nessa série de relatos, Jesus confronta esses grupos usando sua própria identidade como Cristo, o filho de Deus e chama cada um deles ao arrependimento e a crer no Evangelho (como vemos em 1.15).

Nesta sermão, porém, vamos nos concentrar apenas no grupo dos primeiros discípulos.

O Cenário:

O ambiente do nosso texto está situado na região da Galiléia. Se você tem mapas na sua Bíblia, dá uma olhada na parte mais ao norte de Israel que você vai localizar a cidade que Jesus escolheu para dar início ao seu ministério.

Quando você encontrar o território da Galiléia, você vai ver um pouquinho mais à direita o lago de Genesaré ou Mar da Galiléia que tinha 16km de comprimento por 11km de largura. Este lago é bastante conhecido por sua atividade pesqueira.

Estima-se que sete dentre os doze discípulos de Jesus eram pescadores. Conforme afirmado por Osborne, os pescadores galileus, incluindo os discípulos, costumavam pescar com redes de arrasto. Essas redes tinham aproximadamente “6 metros de diâmetro com pedras amarradas a uma de suas extremidades. Para pegar os peixes, lançavam a rede e a puxavam de volta com cordas” (2019, p. 24). É possível que Simão, André, Tiago e João estivessem preparando as redes para fazer este trabalho, quando Jesus os chamou.

O Texto:

Antes do Marcos chegar na metade do primeiro capítulo do seu relato, vamos ver o Jesus começando a formar o grupo dos seus discípulos.

No vs. 16 Jesus está caminhando na praia e avista dois irmãos pescadores: Simão e André. Sabemos que o Simão tem um segundo nome que é Simão Pedro.

No vs. 17 Jesus chama Simão e André dizendo: “Vinde após mim que eu vos farei pescadores de homens”.

No vs. 18 Simão e André, prontamente, deixam suas redes para seguir a Jesus.

No vs. 19 Jesus continua caminhando nas areias daquele lago até avistar o segundo par de irmãos: Tiago e João.

No vs. 20 vemos acontecer a mesma coisa que aconteceu com Simão e André. Eles estavam no barco consertando as redes e Jesus os chama. Na mesma hora, eles deixam os seus afazeres aos cuidados de seu pai Zebedeu com seus empregados, e passam a seguir Jesus.

Venham e sigam-me!

Quando lemos este texto, no primeiro momento, ficamos com a sensação de que tudo está acontecendo muito rápido e muito facilmente.

Você não acha estranho um rabino desconhecido, um mestre religioso no início da sua carreira, sair por aí convidando pessoas que ele acaba de conhecer e dizendo a elas: “Venham e sigam-me” e elas, prontamente, deixarem tudo para segui-lo?

Ilustração:

Você já ouviu esse enigma? “Um homem entra em um restaurante e pede ao garçom um copo de água. O garçom puxa uma faca e aponta para o homem com um olhar ameaçador. O homem diz: ‘Muito obrigado’ e sai feliz daquele restaurante. Qual é o enigma?”

Tudo faz sentido, quando você conhece o resto da história: o homem que entrou no restaurante estava com crise de soluços e ele queria beber um copo de água para tentar se livrar deles. O garçom, muito atento, percebeu os soluços do homem e o assustou para ele se livrar daqueles soluços rapidamente. E deu certo. O garçom pediu desculpas pelo susto. Os dois sorriram deste episódio e o homem saiu feliz daquele restaurante.

Algumas vezes, tem que haver mais em uma história, e a história de hoje é uma dessas vezes.

Um enigma decifrado:

Muito provavelmente, quando a gente abre o Evangelho de Marcos e lê sobre o chamado dos discípulos, a gente pode achar que esses dois pares de irmãos passaram a seguir a Jesus, porque há dois mil anos atrás, na região da Galiléia, essa era uma prática habitual e cultural entre eles.

No entanto, aquilo que parece estranho pra nós hoje — de um homem desconhecido passar e conquistar discípulos para si, sem que eles tivessem qualquer conhecimento dele anteriormente — também era estranho para as pessoas que viviam na Galiléia nos dias de Jesus.

Por isso, o que Jesus acabou de fazer nesses versos, é estranho tanto para nós quanto para Simão e André, Tiago e João.

Para se ter uma idéia de como essa prática não era comum na tradição religiosa judaica, os mestres não escolhiam seus discípulos.

Naquele tempo, não era o professor que escolhia seus alunos. O que Jesus está fazendo aqui é uma coisa que não passa nem perto do contexto religioso e cultural da qual ele mesmo estava inserido.

Por outro lado, a tradição religiosa judaica enfatizava que a identidade de uma pessoa vinha, fundamentalmente, da sua família.

Nós sabemos que para os judeus, a honra que é devida aos pais é tão importante que há um mandamento exclusivo e dedicado isso: nós devemos honrar nossos pais. Qual é o mandamento? É o quinto mandamento: “honra ao teu pai e a tua mãe!”

Agora o que isso quer dizer para o judeu? A pessoa que pensava em si própria, fundamentalmente, se lembrava da família de onde viera. É por isso que as genealogias são elementos integrantes de toda a Bíblia, quer no Antigo Testamento quer no Novo Testamento.

A tradição judaica acredita que a melhor maneira de se conhecer alguém é saber de qual família a pessoa vem.

Então, lemos no versículo 19 que quando Jesus chama Tiago e João, eles estavam trabalhando com o pai deles que se chama Zebedeu.

Imagina a cena: os dois filhos estão trabalhando com o pai para garantir o sustento da casa, e de repente, chega um rabino desconhecido que chama os meninos para segui-lo.

O que Tiago e João fizeram em relação ao seu pai Zebedeu? Eles, prontamente, abandonaram o seu pai.

Mas isto não fazia nenhum sentido para uma cultura que enfatizava a honra que um filho deve ter com o seu pai e a sua mãe.

Portanto, há duas coisas estranhas acontecendo na chamada de Jesus a estes homens.

A primeira é que não era normal ver um mestre escolhendo seus discípulos. Era mais comum que os discípulos escolhessem seu mestre. Mas o que acontece no Evangelho é oposto disso. É Jesus que escolhe os seus discípulos.

A segunda é que para uma cultura como a judaica, que valoriza tanto a família, não era normal ver alguém abandonando a família para seguir um estranho.

A chamada de Jesus, neste sentido, é marcada por uma radicalidade dupla:

a primeira é que no processo de conhecer a Jesus que a gente passa a descobrir que é Deus que quer se relacionar com a gente.

Essa é uma das primeiras idéias que o Evangelho de Marcos nos sugere. Não somos nós que escolhemos o mestre. Não fomos nós que escolhemos a Deus, mas foi Deus quem nos escolheu primeiro (Jo 15.16a). Essa é a primeira radicalidade do chamado de Jesus.

A segunda radicalidade é que conhecer Jesus é também reconhecer que Jesus exige prioridade sobre todas coisas em nossa vida, até mesmo sobre a nossa família.

Hoje, no entanto, vemos algo bem diferente na nossa cultura. Nós estamos em um país que, hoje, valoriza a individualidade.

A maior prova é a adolescência — e não sei concordam comigo — mas quando chegamos na adolescência, naquela fase em que estamos descobrindo a nossa identidade, tudo aquilo que os pais são é justamente tudo aquilo que os adolescentes não querem ser.

Geralmente, no início da adolescência e da juventude, a tendencia é pensar que aquilo que o o pai é ou aquilo que a mãe é, é aquilo que os filhos não querem ser.

No entanto, essa mentalidade moderna não fazia nenhum sentido há dois mil atrás em Israel. Pelo contrário, era muito importante o modo como alguém continuaria a honrar a sua família.

Por isso, podemos dizer que é chocante a contra-cultura que Jesus está implantando aqui.

É como se ele estivesse dizendo: a relação que eu quero ter contigo, meu discípulo, é tão preciosa que eu quero que você a priorize mais do que a coisa mais importante da nossa cultura, que é a honra aos pais.

Vamos abrir um parênteses aqui para pensar nas coisas que são as mais sagradas na nossa cultura e que possuem um valor filosófico pra gente. Por exemplo: o trabalho é uma delas.

Nosso trabalho ou a nossa profissão é uma das coisas mais importantes que a gente tem como valor essencial para que possamos nos amarmos a nós mesmos.

Você concordariam que, na maioria dos casos, aquilo que alguém é/faz profissionalmente é em grande parte aquilo mais pode deixar essa pessoa feliz consigo mesma.

Então o que Jesus está querendo dizer aqui é o seguinte: a relação que eu quero ter contigo, meu discípulo, vale mais do que o valor que você dá ao seu trabalho ou a sua profissão.

Você tem sonhos profissionais? Jesus não está dizendo que eles são pecaminosos. Você tem sonhos na tua vocação? Jesus não está dizendo que eles são errados. Mas há uma coisa que Jesus quer nos ensinar: Ele quer dizer que nenhum sonho que você possa ter sobre a sua vocação ou sobre a sua carreira é mais importante do que o fato dEle te chamar.

Observe o que Jesus está fazendo:

Se Ele está dizendo isso a Simão, André, Tiago e João, quando ele ainda era um estranho pra eles, significa que provavelmente Ele vai fazer o mesmo com você.

Afinal, não faria nenhum sentido Jesus chegar a esses dois pares de irmãos, pedindo coisas difíceis e estranhas pra eles, e de repente, dois mil anos depois, chegar até você, buscando ter contigo apenas um relacionamento superficial!

Ora, se Jesus pediu coisas difíceis e estranhas aqueles homens há dois mil anos, então, não estranhe se Ele pedir coisas difíceis e estranhas a você hoje.

Repare nisso! É bem sério! Jesus está querendo dizer: Eu sou mais importante do que tudo aquilo que você tem na sua vida.

Olha! O seu trabalho é importante, sua vocação é importante, sua relação com seus pais é importante, mas se você quiser me seguir, eu devo ter a sua primazia sobre todas essas coisas.

Jesus deve ter a primazia em tudo!

Ainda que a gente se orgulhe de ser cristão, de vir para igreja e de frequentar e seguir a religião certa — em nosso caso é o Cristianismo — só isso, por si só não é suficiente para nos salvar.

Alguém pode estar na igreja certa, na religião certa e mesmo assim não ser salvo.

Aqueles pescadores também tinham religião. Eles eram judeus e por isso seguiam o judaísmo. Mas o judaísmo de Simão, de André, de Tiago e de João não era suficiente.

Aqueles pescadores precisavam mais do que uma religião. Eles precisavam de Jesus.

Não é religião que a você escolheu, ou aquela que os teus pais escolheram por você, ou aquela que você frequenta por Osmose que pode resolver o seu problema.

E qual é o seu problema? O seu problema é que você precisa de Jesus. Ele é o único Mestre que resolve aquilo que a religião não resolve.

E ainda que você estude teologia, ainda que você decore todos os catecismos, ainda que você memorize muitos textos bíblicos, sem Jesus tudo isso é insuficiente.

Preciso dizer uma coisa sobre nossa igreja: eu me orgulho demais do departamento educacional do Daehan.

Nossos professores são muito dedicados, pra não dizer que são bem chatos e exigentes quando o assunto é educação religiosa. E eles estão certos.

A gente não pode tornar o ensino educacional menos exigente. Eu acredito que nossas crianças, nossos adolescentes e jovens merecem o melhor. Por isso que a gente tem que ser bem chatos com isso.

Mas eu também preciso reconhecer que nem mesmo a melhor e mais excelente formação bíblica, teológica, religiosa no educacional pode fazer aquilo que só Jesus pode fazer.

Os alunos podem saber todo o conteúdo das pregações de trás pra frente, podem memorizar muitos textos bíblicos, mas se Jesus não os chama-los eles não irão, apenas através do educacional, conseguir chamar a Jesus. Percebem a ideia?

Por melhores que sejam os nossos pais e professores, Jesus tem que estar acima deles. Jesus tem que ser muito mais importante que eles.

Isso não é uma coisa fácil de ensinar, mas eu tenho a missão de dizer aos meus filhos que eu e a mãe deles não é mais importante que Jesus.

Jesus tem que será pessoa mais importante pra vocês. Jesus tem que ser o mais importante pra vocês.

Um pai e uma mãe não tem a autoridade última. Acima deles está a autoridade de Deus.

Portanto, eu quero o melhor para os meus filhos, mas também quero eles saibam que ninguém é auto-suficiente, apenas Jesus é!

Nem mesmo, os melhores conselhos dos pais serão suficientes para que você possa seguir a Jesus.

Pra seguir a Jesus, é necessário ouvir a voz do próprio Jesus te chamar.

Agora a última pergunta que me resta a dizer é: Será que estamos ouvindo Jesus nos chamar?

Não são as pessoas que escolhem Jesus, é Jesus que escolhe as pessoas.

Não são os escolhidos que oferecem espaço das suas vidas para Jesus, é Jesus que lhes exige a suas próprias vidas.

Por fim, não se engane ao achar que tudo acontece de um jeito muito simples no Evangelho de Marcos. Não é porque tudo acontece de um jeito simples que tudo vai acontecer de um jeito fácil.

Marcos não está apelando para uma fé apressada, mas apela a uma fé urgente.

Uma das coisas que eu quero que vocês percebam nessa série, é que em Marcos não há muita explicação, mas isso não significa que por esse motivo a gente deve tomar uma decisão equivocada, mas significa que a gente deve tratar com urgência um assunto que é urgente.

Portanto, vale a pena você se colocar dentro deste texto e se perguntar: O que me impede de ser um discípulo? Nesta manhã, o que me impede de ser discípulo?

Se é Jesus que está te chamando, nada te impedirá de ser seu discípulo.

Que Deus nos ajude.

fontes:
BÍBLIA. Mc 1.16-20, ARA
OSBORNE, Grant R. Marcos: Série Comentário Expositivo. 2019.

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