domingo, 16 de janeiro de 2022

João Marcos, o jornalista.


INTRODUÇÃO DA SÉRIE DE ESTUDOS NO EVANGELHO DE MARCOS

Sermão: escrito em 16 de Janeiro de 2022

Quando Deus decidiu dar ao mundo um relato escrito da vida e do ministério de Jesus, Ele achou por bem não nos dar apenas um, mas quatro! Quatro relatos do mesmo evangelho. Deus, em sua infinita sabedoria, inspirou quatro diferentes escritores para contar as boas novas de grande alegria.

Consecutivamente, cada escritor do evangelho traz um sabor ou perspectiva diferente ao narrar a vida de Cristo. Por exemplo, gosto de pensar em Mateus como um grande teólogo. Ele mergulha fundo nas Escrituras, desenvolve pesquisas e escreve o evangelho para relatar aos judeus que Jesus é o Messias tão esperado que atende a todas as expectativas da lei e cumpre todas as promessas do Antigo Testamento.

Já o Lucas… gosto de pensar no Lucas como um grande historiador, porque ele nos diz que investigou todas as suas fontes cuidadosamente para escrever um relato ordenado. Diferente de Mateus, Lucas não escreve aos judeus, mas aos gregos para lhes dizer que Jesus é o perfeito Filho do Homem que veio para salvar e ministrar a todas as pessoas pelo poder do Espírito Santo.

E o que falar do João? Eu gosto de pensar no João como um grande evangelista. Como alguém que relatou o evangelho especialmente para o leitor atento que, crendo que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, possa receber a vida eterna através do Seu nome. Se Mateus escreveu aos judeus, e Lucas aos gregos, o João vai direcionar o evangelho aos povos gentios de todo mundo, declarando a verdade que acabamos de dizer aqui: Jesus é o filho de Deus, totalmente humano e totalmente Divino. Nele, somente nele devemos crer para receber-mos a vida eterna.

Agora, é evidente que há momentos em que todas essas categorias se sobrepõem. Pois, todos os quatro escritores do evangelho são teólogos. Todos eles estão escrevendo relatos históricos. Todos eles estão evangelizando ao compartilhar as boas novas de Jesus Cristo. Portanto, podemos afirmar que as diferenças entre eles é apenas uma questão de ênfase e de ponto de vista.

Neste momento você deve estar se perguntando: Se Mateus é um teólogo que escreve aos judeus, Lucas é um historiador que escreve aos gregos e João é evangelista que escreve aos povos gentios como, então, o Marcos pode ser representado?

Bom, eu particularmente, gosto de pensar no Marcos como o jornalista. Um jornalista que escreve aos romanos sobre Jesus. Marcos se assemelha a um jornalista porque ele usa uma linguagem simples e direta e inclui em seus relatos detalhes muito vívidos e marcantes da vida de Jesus. Além disso, ele gosta de falar de eventos passados como se estivessem acontecendo agora no presente. Por se apropriar de uma linguagem muito objetiva, os leitores de Marcos ficam com a sensação de que suas notícias serão notadas tanto por aquilo que ele inclui quanto por aquilo que ele omite!

Por exemplo, no Evangelho segundo Marcos, não encontramos nada a respeito da genealogia de Jesus como nós encontramos em Mateus e Lucas. Também não há quaisquer informações a respeito do nascimento milagroso de Jesus bem como qualquer menção a estrela do oriente, aos pastores ou a cidade de Belém. Além do mais, não há nenhuma referência da visita dos sábios magos e nem se tem qualquer registro da infância de Jesus em Nazaré. Da mesma forma que não encontramos qualquer história do menino Jesus visitando o templo ou crescendo em sabedoria e estatura. Igualmente, não há qualquer referência à Sua pré-existência como encontramos no prólogo de João. Nem sequer há o relato do Sermão da Montanha ou outro qualquer discurso longo de Jesus. Marcos pula a narrativa do nascimento de Jesus e vai direto para a vida e o ministério de Cristo. Parece que há uma urgência em Marcos, como se ele mal pudesse esperar para entrar na história da vida de Jesus, e especialmente, na morte de Jesus por nós naquela Cruz do Calvário.

Se a gente pudesse resumir o objetivo de Marcos ao escrever à luz daquilo que encontramos em seus 16 capítulos, poderíamos dizer que: “Marcos registrou, de forma objetiva, eventos específicos da vida e do ministério de Jesus para provar para uma audiência romana que Ele é o Cristo, o Filho de Deus que serviu, sofreu, morreu e ressuscitou como o Servo Sofredor do Senhor, como descreveu o profeta Isaías”.

Enquanto nos preparamos para percorrer essa poderosa narrativa do evangelho a respeito de Jesus Cristo, duas questões precisam ser levantadas e respondidas? Primeira: Quem escreveu este evangelho? Segunda: Como devemos abordar este evangelho?

Vamos a primeira pergunta. Quem escreveu este evangelho?

Muitos pais da Igreja como Papias, Justino Mártir, Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Orígenes e Eusébio de Cesaréia concordam que Marcos é o autor do segundo evangelho no Novo Testamento. Este Marcos é mais conhecido nas Escrituras como João Marcos. Se você ainda não sabe, João era seu nome hebraico, que significa dom de Deus, enquanto Marcos era seu nome romano, que significa educado ou brilhante.

O livro que Marcos escreveu é amplamente aceito pela maioria de seus leitores como o mais antigo dos evangelhos. É também, o mais curto dos evangelhos. Embora, tecnicamente alguns estudiosos defendam que este Evangelho seja de autoria anônima, pois o autor não é citado em nenhum lugar do livro, há boas indicações externas e evidências internas que apoiam a autoria Marcana.

A primeira evidência é que Marcos, mesmo nunca mencionado pelo próprio nome no evangelho, pode ser aquele mesmo jovem que, seguindo a Jesus, fugiu nu deixando o lençol para trás, quando tentaram prendê-lo (cf. Mc 14. 51–52). A igreja primitiva acreditava que este rapaz, correndo despido de suas vestes no Getsêmani, é Marcos, pois este é o único evangelho que registra este incidente, conforme lemos no capítulo 14 e versículos 51 e 52.

Uma segunda evidência é que há no evangelho de Marcos uma descrição muito detalhada sobre o salão de hóspedes que Jesus escolheu para celebrar a última ceia com seus discípulos (Mc 14. 12–16). Tudo indica que este lugar é a própria casa do João Marcos (At 12.9–17).

Terceira evidência. No estilo de escrita deste evangelho, há indicações de um certo conhecimento do aramaico e dos costumes locais que se encaixam perfeitamente em Marcos, que é um judeu palestino (cf. Atos 12. 17).

A quarta evidência é que nota-se uma estreita ligação entre João Marcos e Pedro quando se compara o conteúdo do Evangelho com o sermão que Pedro pregou (At 10.36–41). Eusébio citando Papias defende que Pedro é o apóstolo associado ao segundo Evangelho e Marcos o seu intérprete. Por essa razão, Marcos teria interpretado e registrado em seu relato evangélico as experiências deste apóstolo com o Senhor Jesus. O fato do relato de Marcos ser especialmente vívido quando envolve incidentes com Pedro, acrescenta forte apoio a essa visão. Torna-se ainda mais interessante perceber que muitos detalhes favoráveis ​​a Pedro são omitidos na maioria das vezes neste Evangelho, enquanto que grande parte daqueles eventos desfavoráveis ​​a Pedro são incluídos!

Quinta evidência. João Marcos é filho de uma mulher viúva muito piedosa chamada Maria. A casa deles ficava em Jerusalém e servia como um local de encontro para muitos membros daquela igreja dos primeiros dias da era cristã (cf. At 12.9–17). Gosto de pensar que neste lugar eles organizaram seus relatos, testemunhos e textos, e até mesmo planejaram suas viagens missionárias.

Além do contato direto com Simão Pedro, o livro de Atos nos informa que João Marcos também trabalhou com seu primo chamado Barnabé e ambos acompanharam Paulo em sua primeira viagem missionária, mas o Marcos decidiu voltar pra casa antes que a jornada terminasse. Essa atitude causou irritação no Paulo apóstolo e provocou separação entre eles. Três anos depois, Paulo e Marcos se reconciliam e voltam a trabalhar juntos, o que leva Paulo elogiar Marcos a Timóteo dizendo que ele era muito útil e proveitoso para ele e para seu ministério (2Tm 4.11)

Ademais, se por um lado não encontramos o nome do Marcos no seu próprio livro, por outro lado seu nome aparece oito vezes no Novo Testamento. Em Atos 12. 12–25, Atos 13. 5–13, Atos 15. 37–39, Colossenses 4.10; 2 Timóteo 4. 11; Filemom vs. 23–24; e na 1 Pedro 5.13.

Em conclusão, tanto a evidência externa quanto a interna apóiam o consenso da igreja primitiva de que João Marcos escreveu o segundo Evangelho no Novo Testamento. Com isso em mente, é bastante coerente com as evidências considerar que este texto foi de fato, escrito por João Marcos, primo de Barnabé, com base nos relatos fornecidos por Pedro sobre a vida e os ditos de Jesus como uma ferramenta instrucional para a prática da igreja primitiva. Uma outra razão pela qual Marcos teria escrito o Evangelho pode ter sido encorajar os cristãos em Roma que estariam sob a perseguição cruel e instigada de César Nero.

COMO DEVEMOS ABORDAR ESTE EVANGELHO?

Na verdade, como abordamos os quatro evangelhos, e em particular, como abordamos o evangelho de Marcos? Quais são os pressupostos que podemos trazer para o nosso estudo? Acredito que temos pelo menos cinco pressuposições básicas sobre nossos evangelhos.

Primeira: São relatos históricos e não mitológicos. O que eles narram, realmente aconteceu.

Segunda: Por serem escritos por quatro homens diferentes, o estilo, o conteúdo, a perspectiva e outras características podem variar. Mas, no entanto, porque eles foram inspirados por Deus, tudo o que eles escreveram é verdade.

Terceira: Os Evangelhos não são biografias no sentido moderno. Os quatro Evangelhos que compõem o Novo Testamento são mais do que estudos biográficos temáticos. Os Evangelhos são teologias históricas da pessoa e obra de Jesus Cristo que preservam seus ensinamentos e revelam os aspectos da natureza de Deus.

Quarta: As porções podem ser condensadas e resumidas e não dadas como contas exaustivas.

Quinta: Os Evangelhos estão mais preocupados com a morte de Cristo do que com Sua vida. Se você ainda não sabe, mais de um quarto do conteúdo dos evangelhos trata apenas da última semana de Jesus entre os homens do primeiro século.

Agora que iniciamos uma emocionante jornada através deste evangelho, o que Marcos, logo no início do seu texto, quer que entendamos sobre as boas novas de Jesus Cristo, o Filho de Deus?

Bom, Isso é o que vamos responder no próximo post!

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Texto: Diego Gonçalves // Escrito para Igreja Dae Han | MEP 
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