domingo, 13 de março de 2022

Perguntando ao Senhor, o que devemos nos perguntar?


2º sermão da série “Via Dolorosa: A história da Páscoa cristã” — baseado em Mateus 26. 14–16; 20–22; 25 para a Igreja Daehan | MEP // 13.03.22.

Ouça aqui ou leia o sermão abaixo:

TEXTO BÍBLICO:

14Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi falar com os principais sacerdotes. 15Ele disse: — Quanto me darão para que eu o entregue a vocês? E pagaram-lhe trinta moedas de prata. 16E, desse momento em diante, Judas buscava uma boa ocasião para entregar Jesus.

20Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. 21E, enquanto comiam, Jesus disse: — Em verdade lhes digo que um de vocês vai me trair. 22E eles, muito entristecidos, começaram um por um a perguntar-lhe: — Por acaso seria eu, Senhor?

25Então Judas, que o traía, perguntou: — Por acaso sou eu, Mestre? Jesus respondeu: — Você acabou de dizer isso.

– Mateus 26. 14–16; 20–22; 25, NAA

Ore!

CONTEXTO

Pra gente entender o texto:

(Mt 26. 6–13) Na semana passada, vimos que Jesus foi até Betânia para jantar na casa de Simão. Na ocasião, haviam pelo menos 17 pessoas presentes, a saber: Jesus, os Doze, Simão, Maria, Marta e Lázaro. Durante a refeição, Maria se destaca ao entregar sua oferta extravagante de adoração à Jesus. Após ver essa cena, porém, Judas fica indignado e exclama: — “Que desperdício!” (Mt 26. 8–9; Jo 12.4–5)

A propósito, estas foram as primeiras palavras de Judas que foram registradas no Novo Testamento. E elas revelam o seu coração.

Em contraste com Judas, porém, toda vez que vemos Maria de Betânia nas Escrituras, ela está aos pés do seu Senhor — ouvindo-O, aprendendo com Ele e expressando seu amor a Ele. (Lc 10.39; Jo 11; Mt 26. 6–13)

Como nós acabamos de ler nos vs. 14–16 temos a narrativa de uma das etapas mais complexas e tristes do evangelho: o pacto de Judas com os principais líderes dos judeus para prender, trair e matar Jesus.

A seguir, nos vs. 17–19 encontramos o relato da preparação da festa da Páscoa que ocorreu na noite de Quinta-feira Santa, exatamente um dia antes da Crucificação do Senhor.

Como bom judeu, Jesus celebrava a páscoa todos os anos. E a páscoa judaica é marcada por simbolismos. Vamos ver alguns:

Em primeiro lugar, a páscoa deve ser celebrada em família. Jesus, ao convidar os seus discípulos, demonstra que, agora, eles eram sua nova família.

Em segundo lugar, para celebrar a festa da Páscoa, deve haver uma mesa preparada contendo: um cordeiro pascal, o pão sem fermento, o vinho e ervas amargas.

Se você continuar a leitura do texto, vai perceber que Jesus vai ressignificar todos estes elementos, sendo ele mesmo o cordeiro pascal; o pão: seu corpo; o vinho: seu sangue; as ervas amargas: sua traição, sua dor e seu sofrimento.

Em terceiro lugar, para celebrar a festa da Páscoa, deve haver uma liturgia: Começa-se lendo textos da Torá, como o capítulo 12 de êxodo e o cântico dos salmos 113 a 118.

Seguindo em frente, no v. 20 lemos que Jesus estava reclinado à mesa com os seus doze discípulos. Isso significa que em ocasiões como estas não se usavam cadeiras, mas divãs, onde as pessoas se reclinavam apoiando-se sobre o braço esquerdo, deixando o direito livre para apanharem os alimentos e a bebida.

A seguir, no v. 21 lemos que, enquanto comiam, Jesus anuncia-lhes que será traído por um deles.

Então, no v. 22 a sensação que temos é que aquela comida ficou indigesta. Parece que a surpresa, a agitação e o choque foram grandes. Num instante, a dúvida recaiu sobre todos e, um após o outro, se perguntavam dizendo: “Por acaso seria eu, Senhor?”

Assim, finalmente, no v. 25 vemos nossa perícope se encerrar com Judas perguntando: “Por acaso sou eu, Mestre?

Aquela noite de Quinta-feira Santa, noite em que o Senhor comeu a última Páscoa com seus discípulos, foi uma das noites mais longas na vida do Senhor Jesus. E os acontecimentos desse dia vão se desenrolar até a tarde da Sexta-feira Santa, quando, então, Jesus foi crucificado em nosso lugar.

APLICAÇÃO:

Dado contexto, gostaria de começar a aplicação do nosso sermão de hoje.

O título que dei a ele é: “Perguntando ao Senhor, o que devemos nos perguntar?”

A base para isso se encontra nas perguntas que os discípulos de Jesus fizeram: “Por acaso sou eu, Senhor?” e “Por acaso sou eu, Mestre?” (v. 22 e v.25)

INTRODUÇÃO:

Como vocês bem sabem, toda pessoa é um mistério para si mesma. E isso é percebido no texto bíblico que nós lemos.

Veja bem! Você não acha misterioso e até estranho ver os discípulos de Jesus responderem um após o outro: “Por acaso seria eu o traidor, Senhor?”

Pedro, André, Tiago, João, Mateus, Bartolomeu, Tomé e todos os demais, cada um falando por si mesmo, mais que depressa, as perguntas que saem de seus corações: ‘Senhor, por acaso sou eu?’

A forma da pergunta no original, como bem traduziu a NVI e NVT, sugere que eles esperavam uma resposta negativa. Em português, a pergunta que eles fizeram soa mais ou menos assim: “Certamente não sou eu, Senhor, sou?”

Em outras palavras, nenhum deles achava que era o traidor, mas, em contrapartida, nenhum deles podia ter certeza de que não era o traidor.

E certamente há algo estranho nisso aqui, pois esses homens eram todos genuínos. Mas ao ouvirem a profecia de Jesus, reclinados na mesa da Páscoa, um medo vivo e verdadeiro veio sobre eles.

E você até podemos pensar: “Nossa, mas isso é bom!” É sinal de eles consideram a possibilidade de seus próprios pecados.”

E de fato, há um fundo de razão nessa linha de pensamento e nós não podemos desmerece-la. No entanto, essa resolução é apenas superficial;

Se a gente fizer um estudo mais detalhado sobre o caráter dos discípulos, nós vamos encontrar algo que não é tão louvável.

Veja bem: quando os discípulos questionam seu Senhor sobre si mesmos, eles acabam evidenciando a disposição constante que as pessoas tem de mudar as suas responsabilidades.

Quais responsabilidades? A responsabilidade de se auto-conhecer, de se auto-avaliar e de, devidamente, examinar-se a si mesmo.

Com efeito, conhecer a si mesmo é o trabalho mais difícil de alguém e, ao mesmo tempo, é o trabalho mais nobre de alguém.

__________

ILUSTRAÇÃO:

Em plena segunda guerra mundial, enquanto estava preso, Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo luterano, escreveu vários textos, dentre os quais o poema entitulado “Quem sou eu?”

Nesse poema, ele arranca todas as suas máscaras e retrata com profunda sinceridade e emoção, sua condição, suas inquietações e seu estado psicológico, tal como faziam os salmistas, que desnudavam a sua alma diante de Deus.

Deixa eu contar um pouquinho mais desse poema pra você:

“Quem sou eu?” Bonhoeffer começa com essa pergunta.

Em seguida, ele relata a percepção que as outras pessoas tem sobre ele:

“Ele é o homem que consegue suportar os dias da adversidade com serenidade, com sorrisos e como alguém que está acostumado a vencer…”

Era isso é o que as pessoas falavam sobre ele. Mas, nos versos seguintes, Bonhoeffer descreve o verdadeiro ser que ele conhece interiormente, ele diz:

“Eu sou inquieto, saudosista e doente (…)”, também sou “(…) fraco e pronto para dizer adeus a tudo.”

Bonhoeffer encerra seu poema fazendo algumas perguntas:

“Quem sou eu? Este ou aquele?

Por acaso, sou hoje este e amanhã sou aquele?” ou “sou os dois ao mesmo tempo?”

Porventura, sou hipócrita diante das pessoas e, ao mesmo tempo, desprezível, aflito e fracote diante de mim mesmo?

Quem sou eu? Minha pergunta solitária zomba de mim!

_________

Estamos diante da mesma pergunta assustadora:

É a pergunta que os filósofos tentam responder há quase 2500 anos.

Quem, realmente, sou eu? Diante dessa pergunta, alguns de nós não sabe muito bem o que dizer.

Sabemos, porém, que a todo momento, estamos tentando apresentar uma imagem daquilo que somos ao mundo.

Na verdade, hoje em dia, estamos obcecados com a nossa própria imagem, principalmente como a imagem que apresentamos nas redes sociais.

O problema é que, na maioria das vezes, nossas vidas podem não estar à altura dessas nossas imagens que apresentamos por aí.

Corremos o sério risco de apresentar uma imagem falsa daquilo que somos.

Judas é o maior exemplo dessa crise dupla de identidade entre o aquilo “Quem eu sou” e o “Quem eles acham que eu sou?”

Repare numa coisa. Jesus sabia o tempo todo que Judas O trairia e, no entanto, ainda sim, chamava Judas para segui-lo, pois sabia que tudo isso estaria de acordo com o plano de Deus.

Há aqui algumas discussões que surgem sempre que as pessoas começam a considerar Judas e sua traição a Cristo.

Indagamos: como alguém poderia estar tão perto de Jesus durante todo esse tempo, e ainda assim ter tão pouca fé a ponto de trair Jesus até a morte e depois se afastar completamente, ao ponto de deixar de segui-Lo?

Ao refletir sobre isso, logo, aprendemos uma lição: ver milagres e ouvir palavras de vida eterna não podem, necessariamente, convencer alguém a acreditar em Deus.

Por isso, o autor de Hebreus está repleto de razão ao dizer que: “a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.” (Hb 11.1)

Ora, se não preciso ver para crer, logo, a fé deve brotar do fundo do coração de uma pessoa. Deve nascer a partir de uma escolha voluntária que uma pessoa faz para acreditar em Cristo.

Os evangelistas escreveram que muitas pessoas, nos dias de Jesus, viram Seus milagres e ainda sim, não acreditaram nEle e não se comprometeram com Ele.

Quando Judas, em hipocrisia, repetiu a pergunta que os outros discípulos estavam dizendo: ‘Por acaso sou eu?’ bem lá no fundo, ele sabia que Jesus sabia que sim, que ele era o traidor.

E algo que chama nossa atenção é que há uma diferença na pergunta dos discípulos e na pergunta de Judas.

Jesus chamou Jesus de Mestre. Mas os discípulos chamaram Jesus de Senhor.

Isso mostra que Judas, realmente, nunca entregou seu coração a Jesus. E mesmo se tornando um apóstolo, ele nunca teve um genuíno relacionamento com Jesus.

Mateus no capítulo 10 fala que Jesus chamou 12 discípulos, incluindo Judas, e fez deles apóstolos. Em seguida, Jesus capacitou-lhes e os enviou.

Perceba nesse texto que Judas Iscariotes foi um pregador do evangelho!

Ele recebeu o dom de curar e exerceu autoridade sobre demônios.

Entretanto, mesmo que o envolvimento ativo no ministério seja algo bom e maravilhoso; não é, em si mesmo, garantia de saúde ou vida espiritual.

Veja só: Judas andou com Jesus por três anos. Ele o viu de perto e conheceu pessoalmente a maior vida já vivida.

E ainda que a gente aqui do MEP se esforce muito, jamais conseguiremos um melhor ambiente para formação de fé do que Judas teve andando com o Salvador.

Ele testemunhou os milagres diretamente:

  • Quando Jesus alimentou os 5.000, Judas estava lá. Ele tomou do pão e distribuiu junto com os outros discípulos.
  • Quando Jesus acalmou a tempestade, Judas estava lá.
  • E ele estava lá quando Jesus ressuscitou Lázaro de dentro os mortos.

Judas viu com os próprios olhos todas as evidências possíveis de milagres.

E além disso, Judas ouviu todos os ensinamentos de Jesus também.

  • Ele ouviu o Sermão no Monte, então ele sabia que existe um caminho estrito que leva à vida e um caminho largo que leva à destruição.
  • Ele ouviu os avisos que Jesus deu aos fariseus, então ele sabia que existe um inferno para evitar e um céu para ganhar.
  • Ele ouviu a parábola do filho pródigo, então ele sabia que Deus está pronto para dar as boas vindas e perdoar aqueles que se desperdiçaram em muitos pecados.

Com os próprios olhos, Judas viu a evidência mais clara.

Com os próprios ouvidos, ele ouviu o melhor ensinamento.

Com os próprios pés, ele seguiu o maior dos exemplos.

E mesmo assim, este homem ainda traiu Jesus.

Por isso, minha gente, o coração humano está além do entendimento (Jr. 17:9).

Há algo incompreensível sobre uma pessoa que abandona a fé que ela antes professava ter. É difícil entender como um jovem criado por pais piedosos no contexto de uma igreja saudável, ensinado sobre as verdades da Escritura desde criança e fundamentado em apologética possa desistir de Jesus.

A história de Judas contém uma lição importante para os pais, líderes, e amigos que lamentam por alguém amado que abandonou a fé. Eles se preocupam:

· Onde foi que eu errei?

· O que mais eu poderia fazer?

· Nós falhamos no nosso ensino?

· Nós falhamos no nosso exemplo?

· Nós deveríamos ter mergulhado nosso filho ou filha ou amigo em um ambiente diferente?

Mas Judas nos ensina que nem mesmo o melhor exemplo, nem mesmo as evidências mais convincentes e os melhores ensinamentos — nem mesmo o melhor ambiente para cultivar a fé — não podem, em si e por si mesmos, mudar o coração humano.

Algo que precisamos ponderar, no entanto, é que as Escrituras afirmam que Judas abriu seu coração a Satanás. Parece que Judas vinham alimentando um pecado oculto.

Ele tava desviando dinheiro e manteve esse pecado em segredo, Satanás entrou nele.

Depois ele fez um acordo com os chefes dos sacerdotes e logo em seguida sentou à mesa do nosso Senhor com pecados conhecidos que ele não confessaria, e satanás entrou ainda mais fundo em sua vida.

Pecados não confessados abrem a porta para o poder de Satanás.

Satanás não ganha nenhum lugar na vida das pessoas que estão andando na luz com Jesus. Ele só ganha acesso quando a porta está aberta.

Judas se afundou na escuridão que ele escolheu.

Quando você se aproxima de Jesus, uma das duas coisas vai acontecer:

ou você se torna completamente dele, ou você vai acabar mais afastado dele.

em outras palavras,

ou você se entrega completamente a Jesus ou desiste dele por completo.

Não há meio termo.

O que você vai fazer a esse respeito?

Vai se entregar a Jesus totalmente ou vai desistir dele completamente?

Caminhando pro fim, gostaria de apresentar mais alguns pontos:

1. Esse dilema não é exclusivo de Judas.

A. As Escrituras nos mostram que todos os demais discípulos pensavam que eram melhores do que eram.

  • Pra se ter uma idéia, todos eles compartilharam a Ceia com sinceridade
  • E depois, todos eles prometeram que ficariam ao lado de Jesus e que até morreriam por ele. (Mt 26.35; Mc 14.31)
  • No entanto, nenhum deles cumpriram essa promessa.

B. Como os discípulos, tendemos a pensar que somos melhores do que realmente somos.

  • Somos inconsistentes e temos desculpas pra tudo.
  • Prova disso é que sempre nos comparamos com os outros.

2. Verifique se há em você, algumas características tendenciosas de Judas

A. Sinais visíveis:

  • Desilusão com Jesus (ele queria um Jesus político)
  • Ganancia (João escreve que Judas era um ladrão Jo 12.6)
  • Deslealdade (O sumo sacerdote não veio a Judas, Judas foi ao sumo sacerdote Mt 26.14–16)
  • Nossas fraquezas podem revelar muito sobre nós.
  • Sinais de hipocrisia:
  • Sua linguagem se torna chula conforme o local que você circula?
  • Como você reage quando está sob estresse?
  • Como você lida com as pessoas que não tem nada a oferecer a você?
  • Seu comportamento difere no trabalho, na escola, em casa e na igreja?

Em um tempo em que muitos estão abandonando a fé que um dia professaram, a história de Judas

  • nos alerta a guardar nosso coração, para não nos afastarmos de Jesus.
  • nos equipa para alcançar aqueles que podem estar perto de fugir da fé.
  • nos lembra que nada de bom pode vir de desistir de Jesus Cristo.

Nos apaguemos em Jesus. Ele é de valor supremo, e segui-lo vale qualquer custo.

APLICAÇÃO FINAL:

Você precisa de Deus hoje?

Você precisa da presença de Deus hoje?

Você precisa ser mudado através de um encontro com o seu Pai celestial?

Reserve um tempo de qualidade na oração e coloque-se nas mãos de Deus” permitindo que Ele, por sua grande bondade e amor, transforme você.

Ore.

Bibliografia:

BONHOEFFER, Dietrich. Vida e pensamento, de Werner Milstein, lançado pela Ed. Sinodal.

NEVES, Itamir; MCGEE, John Vernon. Comentário Bíblico de Mateus: Através daBíblia, ed. Walkyria Freitas, Segunda edição., Série Através da Bíblia (São Paulo, SP: Rádio Trans Mundial, 2012), 216–219.

SMITH, COLIN. 4 Things We Can Learn from Judas. The Gospel Coalition. © Voltemos ao Evangelho.


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