sexta-feira, 1 de abril de 2022

A vida no caminho de Emaús

 

Um sermão sobre Lucas 24. 13-35

LEITURA BÍBLICA:

13. Naquele mesmo dia, dois deles estavam indo para um povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém. 14. No caminho, conversavam a respeito de tudo o que havia acontecido. 15. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles; 16. mas os olhos deles foram impedidos de reconhecê-lo. 17. Ele lhes perguntou: “Sobre o que vocês estão discutindo enquanto caminham? ” Eles pararam, com os rostos entristecidos. 18. Um deles, chamado Cleopas, perguntou-lhe: “Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias? ” 19. “Que coisas? “, perguntou ele. “O que aconteceu com Jesus de Nazaré”, responderam eles. “Ele era um profeta, poderoso em palavras e em obras diante de Deus e de todo o povo. 20. Os chefes dos sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram; 21. e nós esperávamos que era ele que ia trazer a redenção a Israel. E hoje é o terceiro dia desde que tudo isso aconteceu. 22. Algumas das mulheres entre nós nos deram um susto hoje. Foram de manhã bem cedo ao sepulcro 23. e não acharam o corpo dele. Voltaram e nos contaram que tinham tido uma visão de anjos, que disseram que ele está vivo. 24. Alguns dos nossos companheiros foram ao sepulcro e encontraram tudo exatamente como as mulheres tinham dito, mas não o viram”. 25. Ele lhes disse: “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! 26. Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória? ” 27. E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras. 28. Ao se aproximarem do povoado para o qual estavam indo, Jesus fez como quem ia mais adiante. 29. Mas eles insistiram muito com ele: “Fique conosco, pois a noite já vem; o dia já está quase findando”. Então, ele entrou para ficar com eles. 30. Quando estava à mesa com eles, tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles. 31. Então os olhos deles foram abertos e o reconheceram, e ele desapareceu da vista deles. 32. Perguntaram-se um ao outro: “Não estavam ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras? ” 33. Levantaram-se e voltaram imediatamente para Jesuralém. Ali encontraram os Onze e os que estavam com eles reunidos, 34. que diziam: “É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão! ” 35. Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como Jesus fora reconhecido por eles quando partia o pão.

Lucas 24. 13-35

INTRODUÇÃO:

Este texto que está bem diante de nós nesta manhã, mostra Jesus confrontando dois de Seus seguidores que estão cheios de dúvidas, confusos, e muito angustiados. Eles tinham falta de compreensão das Escrituras, e por isso, não podiam lidar com a morte de Cristo. Não havia na teologia dos discípulos de Emaús um lugar para a doutrina da morte do Messias, muito menos havia espaço para cruz. Por essa razão, não havia também um lugar para a doutrina da ressurreição. Portanto, não puderam reconhecer a presença de Jesus na caminhada deles.

Tudo isso se deu, não porque eles rejeitaram ou não acreditaram no que diz as Escrituras. Isso aconteceu simplesmente porque eles tinham uma compreensão falha, parcial e insuficiente daquilo que está Escrito nas Escrituras. Uma compreensão parcial da Escritura não é suficiente.

Mas, na medida em que Jesus se aproxima deles no trajeto para Emaus, muito provavelmente, não O reconheceram de imediato porque, como o versículo 25 indica, não tinham fé na Escritura. O próprio Jesus disse: “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram!”. Mesmo assim, continua caminhando com eles, passando a iluminar a mente deles e trazendo a clareza de uma verdadeira compreensão das Escrituras, contudo, fez tudo isso sem revelar a sua identidade a Eles.

Os discípulos eram lentos de coração, e ainda hoje, muitas pessoas assim ainda são. Blaise de Pascal diz uma coisa interessante sobre isso: Ele afirma que “O conhecimento humano deve ser entendido para ser acreditado, mas o conhecimento divino deve ser acreditado para ser entendido”. O intelecto humano simplesmente não é suficiente para compreender as verdades da Palavra de Deus. A Bíblia se torna um livro difícil e inacessível para aquele que não crê.

Por outro lado, aquela pessoa simples cujo coração está aberto, sedento e banhado de uma fé humilde será iluminada pelo Espírito Santo de Deus. Os olhos de sua compreensão serão abertos. Pois, a Bíblia só pode ser divinamente compreendida

CONTEXTO:

Estamos exatamente no ponto da transição entre a crucificação e a ressurreição de Jesus. Os primeiros versículos desse capítulo 24 de Lucas, revelam que Maria Madalena e outras mulheres anunciam uma notícia surpreendente, que trouxe a tona uma série de acontecimentos e sentimentos.

Os discípulos de Emaús enquanto caminhavam com o desconhecido afirmaram: “Aquelas mulheres nos assustaram”! (Cf. Lc 24.22).

De repente, surge outra narrativa na história: o apóstolo Pedro coloca em dúvida a afirmação das mulheres e corre até o túmulo e, quando chega lá, só encontra os lençóis caídos no meio do sepulcro. Sem entender qualquer coisa, a Biblia diz que ele volta para casa, sem saber como explicar essas coisas (cf. Lc 24.12). Sabe o que tudo isso significa, minha gente? Significa que você pode ver o túmulo vazio, e
pode ouvir testemunhos poderosos e mesmo assim, você pode não ter uma fé suficiente para crer na ressurreição, porque para crer na ressurreição você precisa de uma compreensão bíblica clara e suficiente.

A fé na Ressurreição não vem em ver um túmulo vazio, mas vem da compreensão das Escrituras e de crer nelas e nas palavras de Jesus sobre Sua missão. Ou seja, nossa crença nunca será uma questão de evidência, mas sempre será uma questão de fé. Por isso, a nossa fé deve estar firmada na totalidade da Palavra de Deus.

NOTA:

Talvez, assim como eu, você já deve ter percebido que algumas das palavras mais tristes do nosso idioma português começam com a letra D? Por exemplo: descrença, decepção, dúvida, desilusão, derrota, divisão, desânimo, desencorajamento, depressão, desespero e dor. Todas essas palavras resumem também como aqueles dois discípulos estavam se sentindo enquanto caminhavam pela estrada em direção a Emaús.

Eles saíram de Jerusalém, assustados, muito provavelmente com medo de novas represálias, com medo de também serem pregados numa cruz, com receio de estar entre aquele grupo confuso de discípulos que estavam perplexos com o que havia acontecido com Jesus naquela Sexta-feira Santa.

Então, lemos que esses dois discípulos que seguiam na estrada para Emaus, caminhavam tristes e desamparados.

O Mestre que eles amavam foi terrivelmente condenado à morte, e a morte de cruz – Como se não bastasse isso, antes de morrer, viram o seu Senhor sofrer cruelmente todo tipo de vergonha e dor. Aquele lugar onde Jesus foi crucificado se tornou o palco e o espetáculo do horror e da humilhação. O mestre foi exposto às maiores zombarias de todas aquelas pessoas que por ali passavam.

Curiosamente, apenas uma semana antes, esses discípulos jamais poderiam pensar nessa cena. Pois viram uma multidão alvoroçada marchar a favor de Jesus. Enquanto Jesus passava ali nas ruas em Jerusalém, aquele povo erguia e balançava galhos de palmeira e gritavam dizendo: “hosana nas alturas”.

Mas agora Jesus estava morto em um túmulo selado. Suas esperanças foram frustradas; o sonho acabou! Mesmo ouvindo o relato de Pedro e das mulheres de que o túmulo de Cristo estava vazio, eles não se animaram nem, nem elevaram seu espírito; pelo contrário, isso só os confundiu ainda mais. Lemos que o desanimo desses dois discípulos ali na estrada para Emaús consistia exatamente na afirmação que disseram: “Esperávamos que ele fosse o único que libertaria Israel!” (Vs. 21)

Minha gente, a esperança humana se fosse comparada a uma planta, seria uma planta muito frágil e, quando murcha, é muito difícil reviver.

Quantas histórias a gente conhece, ou ouve de pessoas que tiraram a própria vida porque o desespero e o desânimo bateram e sugaram o último fiozinho de esperança que havia ali.

Da forma parecida, sentimos tanta tristeza quando alguém que a gente ama e cuida é acometido por uma doença grave, como o coronavírus, vai fragilizando nossa esperança até que o desespero se instale em toda família.

Esse era o sentimento dos discípulos de Emaus. “nós esperávamos que era ele que ia trazer a redenção a Israel”. Em outras palavras, eles estavam dizendo: “Não esperamos mais isso agora. Tínhamos grandes esperanças para o futuro, mas agora essas esperanças se foram e tudo o que nos resta é decepção.”

Você consegue se identificar com os sentimentos desses dois discípulos de alguma forma?


Eu imagino que cada um de nós, reage de forma diferente em relação a ficar deprimido com essas coisas, mas eu sei que é praticamente raro uma pessoa não se sensibilizar com qualquer uma dessas palavras que começam com D. D de decepção, desilusão, derrota, desânimo, depressão, dor, dúvida ou desespero.

Enquanto os dois homens viajavam, um estranho se juntou a eles.

Esta seria a caminhada mais significativa de toda a vida deles.
O estranho perguntou o que eles estavam discutindo. E assim eles contaram sua história para alguém que parecia disposto a ouvir.

Eles abriram o coração àquele homem estranho e contaram tudo sobre suas esperanças frustradas e suas decepções.
Enquanto aqueles dois homens falavam de sua miséria e decepção, o estranho caminha com eles.
Sabemos que o estranho era Jesus.

Gente, isso não dá um ótimo quadro – Jesus andando pela estrada com seus discípulos desanimados e confusos compartilhando seus problemas?

Essa mesma história de 2.000 anos é trazida hoje para o presente. Quando decepção, dúvida, desilusão, derrota, desânimo, dor, depressão e desespero enchem nossas vidas, Jesus é o “estranho” invisível que anda ao nosso lado, ouvindo-nos, e se estivermos dispostos a ouvir sua voz, ele se revela a nós.

Enquanto Cleopas e seu amigo falavam sobre a cruz, sua perplexidade e tristeza, Jesus os tranquilizou e os ajudou. Como Jesus fez isso? Ele os levou para o que Deus diz na Bíblia. Gente, esse é segredo! Vai na Bíblia toda. Não fica só na parcialidade. Leia as Escrituras na sua totalidade de forma Cristocêntrica.

É isso que Lucas nos diz no vs. 27: “E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras”.

Jesus deve ter dado aos discípulos de Emaús a melhor aula de Hermenêutica do mundo.

Ahh, talvez Ele tenha começado por Moisés, que escreveu lá no Gênesis como o pecado veio ao mundo através da desobediência de Adão e Eva,

Depois ele pode ter se referido à descrição de Isaías do Servo Sofredor de Deus que “foi ferido pelas nossas transgressões, esmagado pelas nossas iniquidades” (Isaías 53).

E sabe,
Não é que esses homens não tivessem lido as Escrituras, mas certamente, o entendimento deles foi obscurecida pela ideia de que o Messias viria com glória e poder e chuva de fogo sobre seus inimigos.

Jesus os repreendeu por apenas uma coisa – por não entender e não aplicar as Escrituras. Ele não os repreendeu por deixar Jerusalém e voltar para casa. Ele não critica sua dúvida nem condena sua confusão. Tudo isso era perfeitamente compreensível, dadas as circunstâncias e as informações fragmentárias que haviam recebido. Mas ele lhes diz que deveriam ter conhecido e acreditado naquilo que Deus havia dito. Isso leva ao que poderíamos chamar de “Vai na Bíblia pra consultar o que Deus diz”:

Ele lhes diz claramente que era necessário que Cristo sofresse e morresse na cruz. E Deus faz isso justamente para glorificar seu Filho. Nós lemos que Cristo deu a sua vida por nós, voluntariamente (cf. Jo 10:18) Ou seja, Cristo não foi injustiçado, ou vítima de ser levado contra sua vontade para a cruz. Ele foi livremente e, com infinito amor, aceitou o destino que lhe era reservado: morrer na cruz para salvar a humanidade.

Dizem que de Jerusalem até Emaús dá 11km. Essa caminhada leva mais ou menos 1 hora e meia.
Mas deve ter passado bem mais rápido.

Os dois discípulos podiam sentir o desânimo e a tristeza que sentiam em seus corações se transformando em compreensão e esperança quando o “estranho” explicava que a morte de Jesus fazia parte do grande plano de salvação de Deus.

Esse texto nos ensina que quando a desilusão, a depressão e a derrota dominam nossas vidas, Jesus caminha conosco assim como caminhou com os dois homens no caminho para Emaús. Ele nos leva para a Palavra de Deus e nos diz que Jesus é o filho amado e herdeiro de Deus, e nós somos co-herdeiros com ele. Filhos amados e filhas amados de Deus e que Ele estará ao nosso lado.

Nosso Deus transforma nosso desespero em esperança. Transforma nosso pranto em dança.

Alguns anos atrás, minha esposa e eu conhecemos uma mulher que sofreu de tuberculose ocular. Houveram algumas complicações na saude dela e ela precisou passar por diversas internações e cirurgias. Infelizmente, ela ficou cega dos dois olhos por causa do tratamento.

Quando conversávamos, ela falava como se sentia sobre toda a provação e dizia que às vezes era muito difícil; mas mesmo assim sentia uma quantidade surpreendente de paz e alegria.

Embora a gente percebia as complicação que estavam por vir no futuro. Nunca vemos ou ouvimos essa mulher perder a fé ou a alegria. Ela sempre dizia: Eu acredito em Jesus. Eu sei de onde vim e para onde estou indo.” Ela faleceu há 1 ano e meio atrás.

Eu acredito que ela, assim como os discípulos no caminho para Emaús, foi consolada por seu Salvador. Mesmo que tenha havido momentos em que ela estava deprimida e triste, ela sabia que não estava andando sozinha.

Acredito que Jesus deu a ela esperança para o futuro; uma esperança que somente o Salvador ressuscitado poderia dar. Ela foi abençoada e sentia isso – e aqueles que a visitaram sabiam disso.

Os dois discípulos pediram ao “estranho” para passar a noite com eles e, na refeição da noite, ele “pegou o pão e deu graças; então partiu-o e o deu a eles”. De repente, eles perceberam quem era o estranho.

Era o Mestre Jesus, que havia ressuscitado dentre os mortos. O próprio Jesus havia ministrado a eles em sua tristeza. Agora eles sabiam por que corações desanimados haviam sido transformados em corações cheios de esperança e fé renovada. Jesus se revelou a eles em sua Palavra e através da partilha do pão.

Imagina como Cleopas e seu amigo ficaram; talvez se abraçaram com grande alegria, perguntando um ao outro: ” “Não estavam ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras? “

O mundo deles se uniu. Eles haviam experimentado algo da graça de Deus. Por causa de seu amor por seus discípulos desanimados, graciosamente Jesus veio e os encontrou no caminho para Emaús. Graciosamente, ele limpou a névoa da confusão; mostrou-lhes o coração de Deus e seu plano de salvação e, finalmente, revelou-se a eles – Jesus estava vivo, Ele ressuscitou dos mortos.

No momento em que o “estranho” revela quem ele era, ele desaparece da vista deles. Mas ele não se foi; ele ainda é visível para aqueles que têm os olhos da fé.

O caminho para Emaús é um símbolo da vida cristã. Esta história é sobre desespero comum e trabalho árduo comum de segunda-feira de manhã.

É uma história sobre conhecer um estranho, ouvir suas palavras de conforto, sentar à mesa e compartilhar uma refeição. Esta é uma história sobre o significado da Páscoa para nós. Permite-nos ver que o Senhor ressuscitado dá esperança e alegria, quando tudo o que vemos é decepção, desânimo e desespero.

Isso nos permite ver o mundo, não como um lugar de morte, decadência e derrota, mas como um lugar de esperança, gemendo em direção à vitória final de Deus.

Esta história sobre a caminhada até Emaús é uma história para a vida cotidiana em 2021.

Se você estiver andando pela estrada de Emaús agora ou vier a caminhar um dia carregando esses tristes Ds – decepção, dúvida, desilusão, derrota, desânimo, dor, depressão e desespero – lembre-se de que você não esta andando sozinhos.

O ressuscitado está caminhando conosco.
Jesus ressuscitou dos mortos!
Cristo é o Salvador e a esperança do mundo!

Quando nossa estrada de Emaús estiver cheia de desânimo e desespero, vamos caminhar com Jesus. Caminhando com Jesus, nosso caminho se tornará uma grande estrada de companhia, conversa, crença e esperança

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