domingo, 3 de abril de 2022

O que farei com Jesus, chamado Cristo?


5º sermão da série “Via Dolorosa: A história da Páscoa cristã” — baseado em Mateus 27. 22 (1-2,11-26) para a Igreja Daehan | MEP // 03.04.22. por Diego Gonçalves


Resumo: O que sabemos sobre Pilatos e o que podemos aprender com ele?

TEXTO BÍBLICO:

“Pilatos lhes perguntou:
— Que farei, então, com Jesus, chamado Cristo? Todos responderam:
— Que seja crucificado!”

(Mateus 27.22, NAA)

Aqui está a história de um homem que foi pego em um terrível dilema. Não importa quantas vezes leiamos a história dele, ainda não está totalmente claro o que ele realmente pensou e como ele realmente se sentiu. O nome dele é Pôncio Pilatos. Ele é o homem que entregou Jesus para ser crucificado.

Por causa das Escrituras, sabemos alguma coisa do histórico dele. Os escritores do evangelho o chamam de “governador” da Judéia. Seu título real era “prefeito”. No sistema romano, os prefeitos eram homens que vinham da “guarda romana”. Isso significava que eles eram homens de classe média que possuíam um pouco de propriedade. Eles geralmente eram designados para pequenos territórios que precisavam de vigilância de perto.

Pilatos havia sido nomeado pessoalmente pelo imperador Tibério em A.C. 26. Ele fez sua sede na cidade romana de Cesaréia, na costa do Mediterrâneo, onde Herodes construiu um grande palácio. Mas sempre que os judeus tinham uma grande reunião em Jerusalém, ele viajava para lá para garantir que tudo ficasse sob controle. Esse era o principal trabalho de um prefeito romano: manter as coisas sob controle, cobrar impostos e manter a paz. Para fazer isso, os romanos geralmente permitem que a população local mantenha sua própria religião e, na medida do possível, gerencie seus próprios assuntos.

Pilatos era um típico romano. Quando ele veio de Roma para Israel, ele não sabia praticamente nada sobre a lei e os costumes judaicos. As evidências sugerem que ele pouco fez para remediar essa deficiência. Na verdade, o que sabemos sobre Pilatos nos leva a concluir que ele desprezava os judeus e eles retribuíram o favor. Vários incidentes infelizes aconteceram – algum derramamento de sangue desnecessário, algum assédio provocativo – o que fez com que os judeus o considerassem um homem cruel e sem coração.

Problemas No Ar

Agora é a época da Páscoa e Pôncio Pilatos está em Jerusalém. Sem dúvida, ele vai ficar no Palácio de Herodes. Herodes também está na cidade, embora tecnicamente esta não seja a área dele.
Assim como Anás, o velho sumo sacerdote, e Caifás, o atual sumo sacerdote. Assim como milhares de peregrinos judeus que vieram de todas as partes de Israel. Outra pessoa está na cidade. Jesus. Todos os discípulos estão reunidos. E muita gente vinha seguindo Jesus. E é aqui que o drama final começa.


O QUANTO PILATOS SABIA SOBRE JESUS?


Exatamente o quanto Pilatos sabia sobre Jesus é uma pergunta que não podemos responder com certeza. Mas podemos supor que ele sabia de alguma coisa. Afinal, esse é o trabalho de um governador. Ele deve ter sabido da popularidade de Jesus com o povo. Ele deve ter sabido que os principais sacerdotes e escribas não tinham utilidade para ele. Assim como Herodes, ele deve ter ouvido vários rumores sobre esse novo Rabi. É o trabalho de um político saber essas coisas e, como veremos, Pilatos era um político inteligente. Ele sempre soube para que lado o vento soprava.

O TRIBUNAL ROMANO


Os escritores do evangelho enfatizam que o julgamento de Jesus ocorreu no início da manhã. Aconteceu assim porque os governadores romanos eram como juízes modernos. Eles gostavam de começar cedo, terminar cedo e ter tempo para recreação à tarde. Jesus foi preso por volta da meia-noite de quinta-feira.
Ele teve uma audiência diante de Anás, depois diante de Caifás e, finalmente, perante o Sinédrio, a Suprema Corte Judaica. Eles tentaram colocar uma acusação de blasfêmia nele. A blasfêmia foi punível com a morte, e isso é realmente o que eles queriam – uma execução, não um julgamento justo.
Mas havia apenas um problema. Os judeus poderiam condenar um homem à morte, mas não podiam realizá-lo. Embora, alguns anos depois a situação tenha mudado. Como podemos ver na história de Estevão!

Então, para que Jesus pudesse ser morto, Pilatos tinha que concordar com isso. É por isso que, no início da manhã de sexta-feira, eles trouxeram Jesus ao Pretório. O Pretório era a sala de julgamento, o lugar onde o governador ouvia casos e proferia veredictos. Agora é entre seis e sete da manhã. Eles estão todos lá. Os principais sacerdotes, os escribas, os fariseus, saduceus, todos eles. E eles levaram Jesus com eles, amarrados como um criminoso.

Os romanos seguiam uma certa rotina em todas os julgamentos. O juiz presidente pediria uma declaração formal das acusações. Ele então questionaria tanto os promotores quanto os réus. As testemunhas se apresentariam, dariam seu testemunho e seriam examinadas. Depois de ouvir todo o testemunho, o juiz se retirava, conversava com seus associados e depois retornava com sua decisão.
A sentença normalmente seria executada imediatamente. Pilatos seguiu de perto esse procedimento quando Jesus foi levado adiante dele.

O registro é claro sobre os eventos daquela manhã de sexta-feira. Pilatos fez algumas perguntas de rotina – coisas como: “Qual é a acusação contra este homem?” João nos diz que os judeus não queriam responder diretamente. O problema era que não havia lei romana contra a blasfêmia. Esse era um assunto judaico. Eles não podiam dizer: “Este homem afirma ser o Messias”, porque Pilatos ignoraria-os.
Pilatos não gostava dos judeus, realmente não entendia sua lei e não queria ser arrastado para algum debate religioso acalorado e exigente.


“O Que É Verdade?”


Por fim, ele concorda em questionar Jesus. Todos os quatro evangelhos concordam com a primeira pergunta que Pilatos faz: “Você é o rei dos judeus?” Isso é o que os líderes judeus estavam acusando Jesus. Mas essa questão significava uma coisa para os judeus, e outra para os romanos.
A resposta de Jesus é deliberadamente ambígua: “Você o diz”, o que significa: “Sim, eu sou um rei, mas não o tipo de rei em que você está pensando”.

Bem, ele era um rei ou não? João dá alguns detalhes que os outros escritores omitem. O problema era que, para Pilatos, o título de “Rei dos Judeus” implicava um governante militar, mas para os judeus significava o Messias. Os principais sacerdotes queriam confundir Pilatos ao pensar que Jesus era algum tipo de líder revolucionário e, portanto, uma ameaça a Roma. Não funcionou porque Jesus lhe disse: “Meu reino não é deste mundo. Se fosse, meus servos lutariam para evitar minha prisão pelos judeus. Mas agora meu reino é de outro lugar.” (João 18:36)

É nesse ponto que Pilatos faz a pergunta que lhe rendeu um lugar na história. Quando Jesus disse: “Todo mundo do lado da verdade me ouve”, Pilatos respondeu: “O que é a verdade?” Mas ninguém sabe exatamente o que ele quis dizer. A pergunta dele era um desejo sincero de saber a verdade? Ou era cinismo filosófico? Foi uma piada sarcástica ou simplesmente pura ignorância? Ele estava irritado ou indiferente? Ele estava falando de uma necessidade profunda interna? Não há como saber com certeza por que Pilatos fez essa pergunta. A única coisa que podemos afirmar é que naquele exato momento, Pilatos estava mais perto da verdade do que jamais esteve antes.

Barrabás Ou Jesus?


O breve momento passou e os líderes judeus começaram a acusar Jesus.
A Bíblia diz muito claramente: “Jesus não respondeu – para o grande espanto do governador”. (Mateus 27:14) Isso pode ser o que nos faz sentir pena de Pilatos. Claramente, ele não quer fazer parte de toda essa bagunça. Sem raiva, sem ameaças, apenas admiração e profunda confusão. Quem é esse homem? Por que ele está aqui? E por que os judeus querem que ele seja morto? O que fazer agora? Pilatos tem uma ideia. Um tiro no escuro, na verdade, mas que pode tirá-lo de uma situação difícil.

Naquele dia, havia um costume para o governador libertar um prisioneiro na Páscoa a cada ano. Era uma das poucas coisas que Pilatos fazia que os judeus realmente gostavam. Quase se pode ver a luz acendendo no cérebro de Pilatos quando a ideia o atinge. “Talvez dê certo!” Ele pensava. “Vou tentar acalmar a situação muito bem, sem precisar me comprometer totalmente.” Mas havia um problema. As pessoas tinham que concordar. Não era escolha dele. Era voto popular! Então ele lhes ofereceu dois homens – Jesus e um criminoso notório chamado Barrabás.

Barrabás era um bandido. Isso é tudo o que você poderia dizer sobre ele. Ele era um assassino, um terrorista, um homem que não podia matar sem emoção. Pelos padrões comuns, ele era o último homem que os judeus queriam ver nas ruas. Todo mundo dormia um pouco melhor com Barrabás atrás das grades. Mas este foi um dia estranho e bizarro em que os valores comuns viraram de cabeça para baixo. As coisas não deram certo. Pilatos, esperando por uma saída fácil, fez à multidão uma pergunta simples: “Quem você quer que eu solte – Barrabás ou Jesus?”

A Esposa de Pilatos

Evidentemente, as pessoas não responderam rapidamente. Eles se movimentaram por um momento, e naquele instante veio a estranha mensagem da esposa de Pilatos de que ela havia sonhado com Jesus e que o sonho a havia perturbado. Ela enviou uma mensagem ao marido para não fazer mal a Jesus. Não há razão para pensarmos que a esposa de Pilatos já tinha visto ou ouvido Jesus. É isso que torna a história tão interessante.

Naquele pequeno momento antes do veredito, a esposa de Pilatos enviou uma mensagem de Deus. O quanto gostaríamos de saber o que se passou na cabeça de Pilatos neste momento. Sem dúvida, Pilatos fez uma pausa por um momento. Certamente a mensagem de sua esposa o sacudiu. Provavelmente ele olhou para o céu por alguns momentos. Mateus dá a impressão de que Pilatos precisou se sentar sentindo-se asfixiado da pressão. Ele fez a pergunta e, naquele instante, a mensagem veio de sua esposa. Agora ele está pensando em tudo. Chega um momento em que uma decisão deve ser tomada.
O pior de tudo é que Pilatos não se deu ao luxo de pensar nisso no fim ou no decorrer da semana.
Ele tinha que decidir naquele momento. E como tantos outros fizeram, ele não fez nada.


O Homem Que Sabia Demais


Lá embaixo, os líderes começaram a incitar a multidão, a incitá-los para uma ação decisiva. Lentamente, os gritos começaram, primeiro baixo e lento, depois mais alto e mais rápido. “Solte Barrabás. Queremos Barrabás.” O momento da decisão já passou. As pessoas gritavam. Eles queriam que o ladrão fosse libertado. E que Jesus morresse.

Certamente Pilatos era um homem problemático. Do ponto de vista de 2.000 anos, é difícil não sentir pena dele. Ele nunca pediu essa situação terrível. Ele nunca quis libertar um assassino. Em sua mente, ele sabe que Jesus é inocente. Ele sabe disso. Sua esposa lhe deu a mensagem de Deus. Mas as pessoas pediram a libertação de um assassino.

Mais uma vez ele tenta: “O que devo fazer, então, com Jesus, chamado Cristo?” Este é o ato de um homem desesperado. Ele sabe o que deve fazer, mas tem medo de fazê-lo. Na verdade, se você juntar os relatos do evangelho, parece que Pilatos tentou quatro vezes evitar condenar Jesus à morte. Primeiro, ele disse aos judeus para julgarem o caso sozinhos. Em segundo lugar, ele enviou o caso para Herodes. Terceiro, ele tentou aplacar os judeus açoitando Jesus em vez de crucificá-lo. Em quarto lugar, ele tentou fazer um acordo, mas o povo escolheu Barrabás.


A Chantagem! (Jo 19.12]


É precisamente nesse ponto que a história de Pilatos se torna tão fascinante. Uma e outra vez os escritores do evangelho enfatizam que ele achou Jesus inocente. Mas o que um homem deve fazer? Acho que, apesar de toda a pressão, Pilatos ainda teria libertado Jesus com apenas um flagelo, exceto por uma coisa. Os judeus jogaram sua carta de trunfo. Eles disseram a Pilatos: “Se você deixá-lo ir, você não é amigo de César”. (João 19.12)

Pilatos sabia exatamente o que eles queriam dizer. O imperador Tibério estava doente, desconfiado e muitas vezes violento. Ele não gostaria de receber relatório ruim sobre um de seus prefeitos. E Pilatos tinha muitas coisas para encobrir. Seu passado estava finalmente alcançando ele. Foi chantagem, pura e simples. E funcionou.

Veja, se a escolha fosse simplesmente entre Jesus e os judeus, Pilatos deixaria Jesus ir. Mas não foi exatamente assim. O Sinédrio simulou a chantagem. Agora a escolha de Pilatos era entre Jesus e Roma. Um homem fará muitas coisas para salvar seu emprego. No final, tudo apontava para o puro interesse próprio da parte de Pilatos.


Lavando as Mãos Sangrentas


Deixe-me resumir o caso como eu o vejo. Pilatos nunca realmente entendeu Jesus, mas também nunca quis matá-lo. Ele não foi enganado pelos apelos líderes judeus ao direito romano. E ele sabia que Jesus era inocente. Ele disse isso algumas vezes. Então, fundamentalmente, tudo se resume a isso:

Pilatos queria libertar Jesus, mas sem nenhum custo para ele pessoalmente. Ele queria deixá-lo ir, mas sem ter que tomar uma posição pessoal. Ele admirava Jesus de certa forma, mas não o suficiente para acreditar nele. Ele finalmente cedeu à chantagem do sinédrio e à pressão pública. E então ele condenou Jesus a morrer. Mas no ato final, já com sua consciência torturada, ele pegou uma tigela de água e lavou as mãos. Era um ato que os judeus entenderiam porque veio do Antigo Testamento. Na verdade, vem de Deuteronômio 21, onde o Senhor estabeleceu uma cerimônia para o caso de um assassinato não resolvido. Envolvia lavar as mãos sobre uma novilha cujo pescoço havia sido quebrado. A cerimônia significava: “Ele é inocente e eu também”.

Entretanto, há um problema. Pilatos é culpado. Nem se usasse toda a água de mil Itaipús poderia lavar a culpa de Pilatos. Ele é culpado de covardia moral no momento da crise. Ele é culpado de vender um homem inocente para salvar seu próprio emprego. Ele é culpado de condenar um homem que ele sabe ser inocente. Por mais que lavasse, suas mãos ficariam manchadas de sangue inocente pra sempre.

Pilatos crucificou Jesus por sua indecisão, sua covardia, seu egoísmo. Embora se torne um homem velho, essa memória o assombrará para sempre. As cenas do Gólgota ficariam gravadas até o dia em que ele morrer. E acontecerá que seu nome será um símbolo de todo o mal que foi feito a Jesus. E isso, de fato, aconteceu. Em centenas de milhares de igrejas, os cristãos recitam o Credo dos Apóstolos. E apenas três nomes pessoais são encontrados nesse credo – Jesus, Maria e Pilatos “…Nascido da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos”. No entanto, Pilatos sabia que Jesus era inocente. Ele tentou libertá-lo quatro vezes – e disse: “Não encontro culpa nele”. Esse é o mistério e o enigma de sua história.

Um Homem Fraco E Lamentável

Ele lavou as mãos, mas a mancha de sangue não saiu. Ele tentou fazer um acordo, mas o acordo não deu certo. Ele tentou se comprometer e acabou sendo chantageado. No final, Pilatos parece lamentável, assustado, fraco, incapaz de fazer o que sabe que é certo.

Pilatos, o que você disse à sua esposa naquela noite? Como você explicou o que fez? Você lavou as mãos na frente dela? Há muitas tragédias desta história, mas talvez a maior seja esta. Pilatos nunca quis se envolver. E ele nunca odiou Jesus. Ele só queria manter a paz. Ele sabia a verdade, pensou sobre isso, teve sua oportunidade e não aproveitou. Ele disse: “O que é a verdade?”, quando a Verdade estava a um metro de distância dele. Ele não conseguia ver; ele não entendia; ele não acreditava e, portanto, não o seguiu.
Ele estava perto o suficiente para alcançar e tocar a Verdade, mas não o fez.

“O Que Devo Fazer Com Jesus?”

A pergunta final de Pilatos para a multidão ainda soa ao longo dos séculos: “O que devo fazer, então, com Jesus, chamado Cristo?” Cada pessoa terá de dar uma resposta. E existem apenas duas respostas possíveis. Eu posso coroá-lo e morrer com Ele ou crucificá-lo. Não há mais nada, nenhum meio termo.


Vamos mudar a pergunta e torná-la mais pessoal: “O que você vai fazer com Jesus?” Se ele é o Filho de Deus, então coroa-o o Senhor da sua vida e entregue o seu coração a ele. Mas se para você, Jesus é uma fraude, então, por todos os meios, envie-o para ser crucificado. Mas não posso decidir isso por você. Ninguém pode responder a essa pergunta além de você. Os amigos de Jesus não podem responder por você. Nem seus inimigos. Pilatos tentou lavar as mãos, mas a água não lava esse tipo de sangue. Você não pode reivindicar neutralidade. Ou você se junta àqueles que o crucificaram ou se junta àqueles que o seguem.

Eu faço a pergunta mais uma vez: O que você vai fazer com Jesus? Pela primeira vez, não há como adiar.
Em pouco tempo, cada um de nós deixará este lugar tendo tomado uma decisão por Jesus ou contra ele.
Minha última palavra para você é esta: se você escolher Jesus, nunca vai se arrepender.

Deus abençoe,

Diego jondo

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